A Palavra de Deus afirma que
todo cristão está em uma frequente batalha, as afirmações do apóstolo Paulo em
Efésios deixam claro para nós que esta batalha não é contra seres humanos, mas
sim contra principados e potestades, contra os dominadores deste sistema
mundial em trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais (Efésios 6:12). As afirmações de Paulo
nos levam a uma certeza: o crente está numa batalha
espiritual. Entretanto, o grande questionamento é: em que proporções essa batalha ocorre, qual é de fato a relação do cristão nela em função de sua vida no
mundo?
Este assunto é bastante extenso, há um número corriqueiro de literaturas
que tentam explicar, algumas de forma até fantasiosa, esses mistérios
envolvendo o mundo invisível, há também, por outro lado, um vasto número de
experiências empíricas que produzem as mais diversas conclusões a respeito do
assunto. Entretanto, propomos no presente artigo uma análise a respeito da
atuação de Satanás na vida do cristão. Teria ele poder de possuir um
crente salvo em Jesus? Teria ele o poder de ocasionar doenças em um crente
salvo em Jesus, levando-o até mesmo à morte?
Quais
as implicações da graça de Deus e do sacrifício na cruz de Jesus na vida
daqueles que são lavados no sangue de Cristo? Há um
movimento, chamado movimento de batalha espiritual, que
acredita que a resposta para essas questões é sim. Acreditam que um crente,
mesmo sendo fiel a Jesus, pode sim sofrer ataques e até mesmo possessão
demoníaca. Infelizmente, boa parte dessa literatura se baseia no empirismo, ou
seja, baseia-se em experiências vividas, em relatos de pessoas endemoninhadas e
coisas do gênero. Mas, biblicamente temos razões para acreditar que a resposta
para tal possessão (de um crente fiel a Cristo, lavado pelo seu
sangue na cruz) seja não.
A morte de Cristo na cruz inaugurou uma nova etapa para a vida, a etapa
da cruz. Na cruz Jesus conquistou uma nova vida para o crente e promoveu um
resgate das trevas, porque “sabemos que os filhos de Deus não continuam pecando, porque o
filho de Deus os guarda, e o Maligno não pode tocar neles” (I João
5:18). De igual modo, os reformadores possuíam uma convicção firme a
respeito disso. Martinho Lutero, em sua poesia Castelo Forte cantada no Brados
de Júbilo, afirma: “Se nos quisessem devorar demônios não contados, não nos podiam
assustar, nem somos derrotados. O grande acusador dos servos do Senhor já
condenado está; vencido cairá por uma só palavra”.
Os
cuidados que precisamos ter nessa questão são dois: o primeiro é o de não
superestimar as atitudes de Satanás, dando ênfase demasiada às suas atitudes; o
outro é não subestimar, pensar que Satanás não existe. A existência de Satanás
é algo concreto. No livro do Gênesis, no capítulo 3, é-nos contado que esse ser
já atuava desde o início da criação. No entanto, nas páginas do Antigo
Testamento, sua ação parece não ganhar muito destaque. Esse assunto não parece
despertar grande interesse nos autores do Antigo Testamento. Devido a isso, são
poucas as passagens relevantes. Uma das únicas passagens que parece
apresentar a ideia de possessão no Antigo Testamento é o caso de Saul, no
capítulo 16 do primeiro livro de Samuel (não estamos afirmando aqui que
o caso de Saul fosse de possessão, mas apenas uma referência que pode
apresentar uma ação de Satanás; ao que tudo indica, o caso de Saul era de
opressão, e não de possessão). A situação, no entanto, parece mudar nas
narrativas dos evangelhos, onde os demônios aparecem atuando mais claramente.
A manifestação explícita da ação de Satanás e de seus demônios se dá com
a chegada de Cristo e com a inauguração do Reino de Deus. Na chegada do Reino
de Deus através de Jesus, a ação de Satanás e de seus demônios não só é
revelada como desafiada. Toda estrutura demoníaca é exposta e combatida por
Jesus. Os evangelhos utilizam normalmente a palavra grega daimonion ou daimon, que se referem a seres espirituais hostis a
Deus e aos homens. São espíritos maus, que atuam sob o comando de Satanás. São espíritos
destituídos de corpo físico, tendo a capacidade de entrar numa pessoa.
Costumeiramente tem-se a tendência de dizer que a ideia de possessão era
a maneira do povo do primeiro século referir-se a condições que hoje seriam
chamadas de enfermidades mentais ou loucura. No entanto, os relatos dos
evangelhos parecem fazer uma distinção clara entre doença e possessão. Por
exemplo, Mateus 4:24 diz-nos que eram trazidos “todos os que estavam padecendo de vários males e tormentos:
endemoninhados, epiléticos e paralíticos”. A ideia de possessão na
Bíblia tem a ver com o fato de uma pessoa ser tomada, ser habitada por um
demônio. O termo utilizado para expressar essa ideia de possessão vem do
grego Daimonizomai, ser possuído por demônio, ser endemoninhado,
agir sob o controle de um demônio. Segundo o dicionário VINE, aqueles que são
afligidos dessa maneira expressam a mente e a consciência do demônio ou
demônios que neles habita (Lucas 8:28). O termo aparece 7 vezes em Mateus, 4 em
Marcos, uma vez em Lucas e João.
A Bíblia não informa sobre as condições que possibilitam uma pessoa
ficar possessa, Cristo nos fala em Mateus 1:44,45 que uma “casa vazia” pode ser ocupada. Podemos entender,
através dos termos utilizados, que a ideia de possessão tem a ver com a habitação.
O cristão é templo, habitação, morada do Deus Trino (João 14:16,17); (22,23); (I
Coríntios 6:19), sendo assim, podemos deduzir logicamente que quem não tem a
santa Trindade vivendo nele, está sujeito a ter como hóspede a Satanás (Mateus
12:43-45); (Lucas 11:24-26). Não queremos dizer com isso que todo não crente
está possesso, mas que a possessão ocorre na casa vazia, onde a santa Trindade
não habita.
Os demônios agem também através da influência demoníaca. A influência
ocorre fora do corpo. A ideia de influência é muito clara na Bíblia. Satanás
influencia Eva, sopra-lhe ideias que a levam a ir contra a ordem de Deus (Gênesis
3:1-5). Ele também influencia Davi, levando-o a fazer um recenseamento do povo
(I Coríntios 21:1). Na tentação de Jesus, todo o esforço de Satanás é de
influenciá-lo a tal ponto de fazer com que ele caísse em suas propostas.
Satanás e seus demônios não podem possuir ou tomar o corpo dos crentes
em Jesus, pois estes são moradas da Trindade. No entanto, ele pode
influenciá-los, levando-os a pecar no intuito de afastá-los de Deus. A Bíblia
nos orienta a resistir ao Diabo (Tiago 4:7); (I Pedro 5:8,9). Cada
vez que um crente defende ou toma para si ideias malignas, seja em sistemas
políticos, religiosos, artísticos, culturais, ele está sendo influenciado por
Satanás, mas não possuído.
Que um verdadeiro cristão, um nascido de novo, não pode ficar possesso
isso é inquestionável. “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não está no pecado;
aquele que nasceu de Deus, Deus o protege, e o Maligno não o atinge”, (I
João 5.18). Porém, a garantia de proteção é condicional: não estar no pecado, também conforme (I João 1:7): “Se, porém, andarmos na luz,
como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu
Filho, nos purifica de todo pecado”.
Quando não andamos na Luz, nós nos afastamos da comunhão e da proteção,
mesmo frequentando a igreja. Com isso não estamos dizendo que qualquer crente
em Jesus que pecar pode ficar possesso, o fato de o crente cair em pecado não
dá o direito de o inimigo possuí-lo. O que queremos dizer com o “deixar de andar na Luz” é o mesmo que apostasia,
quando o crente peca de forma deliberada e não busca o arrependimento. Para
entendermos melhor, gostaria de traçar aqui um paralelo entre o herege e o
apóstata. O herege é alguém que caiu em algum tipo de erro doutrinário, por consequência
comete erro em sua conduta moral. Mais de modo geral continua sendo discípulo
de Cristo, podendo ser restaurado. Em (Tito 3:10), o apóstolo Paulo indica que
há possibilidade de recuperação no início.
Segundo Champlin, na igreja pós-apostólica alguém era considerado
apóstata mediante a renúncia da fé ou mediante o lapso moral, por haver
cometido grandes pecados conscientemente e deliberadamente como o adultério e
homicídio, sem se arrepender dos mesmos. Portanto, o apóstata é aquele que se
afasta de Cristo, deixando de andar na luz, praticando pecado deliberadamente,
mesmo estando na igreja. Pois há dois tipos de apóstata: o revelado, que assume seu estado, e o velado, que se afastou de
Cristo, mas não da igreja por ter amigos e alguns privilégios.
Algo importante para se trazer à baila nesta discussão é saber
diferenciar as doenças circunstanciais de uma possessão demoníaca. As mazelas
do mundo ocorrem também de forma circunstancial, ou seja, como uma consequência
da queda no Éden. A queda causou uma verdadeira catástrofe em todo o universo,
é nesse sentido que Paulo afirma aos romanos: “sabemos que até hoje toda a criação geme e padece, como em dores
de parto. E não somente ela, mas igualmente nós, que temos os primeiros frutos
do Espírito, também gememos em nosso íntimo, esperando, com ansiosa
expectativa, por nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo”.
A teologia chamará de mal moral e mal circunstancial. O mal moral é o pecado em
todas as suas formas. Já o mal circunstancial é o mal que decorre do mal moral,
que resulta em sofrimento, miséria, dores e doenças.
Já é certo que os cristãos estão sujeitos às mesmas mazelas no mundo, ou
seja, também passam por privações, também são sujeitos a dores e sofrimento,
assim como a doenças. O que não podemos fazer é confundir fatores clínicos com
possessão demoníaca. É notadamente comum estabelecermos tais relações,
principalmente quando estamos lidando com partes pouco conhecidas da mente
humana. Doenças relacionadas ao cérebro são comumente confundidas com demônios.
Uma breve consulta aos manuais de psiquiatria nos dá uma vasta lista de doenças
relacionadas ao cérebro, do ponto de vista psiquiátrico temos: esquizofrenia,
todos os variados tipos de neurose, depressão, psicose. As doenças neurológicas
são diversas também: autismo, dislexia, encefalite, Alzheimer, Parkinson, entre
outras.
Temos ouvido a esse respeito e visto, ao longo da história, diversos
crentes fiéis a Jesus Cristo passarem por essas doenças, assim como
acompanhamos o sofrimento de suas famílias, casos como estes não podem ser
confundidos ou mesmo relacionados com qualquer relação diabólica. Não estamos
querendo dizer com isso que Satanás e seus demônios não estejam ativos no
mundo; sim, estão, e provocam males sem fim à sociedade, entretanto, tais atos
malignos não podem ser confundidos quando o que se deve tratar na verdade são
doenças que atacam os seres humanos. Ainda há um grande mistério quando o
assunto é a mente, uma histeria pode ser resultante de um grande stress emocional
levando a pessoa ao choro teatral, ou mesmo à paralisia de membros do corpo.
Diante do exposto, conclusivamente podemos afirmar que a resposta para
essa questão - se um crente salvo em Jesus pode ficar endemoninhado - é não. Embora o espaço não seja suficientemente grande para
exaurirmos o assunto, é possível concluir, partindo de uma premissa
simples: a vitória de Cristo na cruz. A vida do cristão parte da
cruz de Cristo, e a Bíblia afirma em toda a extensão do Novo Testamento
que na cruz Cristo derrotou todas as forças do mal. Cristo
padece, morre e ressuscita; e como resultado dessa ação sobrenatural, ele
declara vitória sobre as forças do mal para toda a eternidade.
Este cenário é muito claro nas Escrituras: “despojando os principados e potestades, publicamente os expôs ao
desprezo, triunfando deles na cruz”, (Colossenses 2:14 e 15). A cruz
de Cristo é o lugar onde ele triunfa sobre todas as potestades e principados do
mal. Essa linguagem usada por Paulo é uma linguagem militar, retrata um soldado
vencedor que despoja o derrotado de suas vestes e de suas armas, deixando-o
completamente desarmado.
Esse estado de Satanás nos permite ficarmos tranquilos em Cristo. São
diversas as citações bíblicas que garantem ao crente em Cristo tranquilidade diante
de Satanás, e todas elas expõem de forma direta um inimigo já derrotado por
Cristo (Gênesis 3:15); (Marcos 3:26-27); (João 12:31,33); (14:30); (16:8-11); (Hebreus
2:14-15); (Apocalipse 20:1-3). Outros textos poderiam ser citados, mas
entendemos que estes são suficientes para determinar com clareza que Satanás já
está derrotado por Cristo na cruz.
Ao tratar deste assunto, o qual deve ser ponto de dúvida de muitos
outros, o tratarei levando em conta, não crentes nominais, denominacionais ou
meramente religiosos, mas sim, levando em conta, os verdadeiros crentes, os
quais entenderam a mensagem do Evangelho (que Cristo veio ao mundo para salvar
os pecadores e por essa razão foi crucificado e, posteriormente, ressuscitou)
e, recebendo tão maravilhosa revelação, se converteram a Jesus Cristo,
arrependidas de seus pecados.
O verdadeiro crente é propriedade exclusiva de Deus (Pedro 2:9). Se é
exclusiva, só Deus tem direito de usufruto desta propriedade. Só Deus tem o
direito sobre a vida do verdadeiro crente. Deus tem lavrada uma Escritura, onde
está escrito, com o sangue de Jesus, que TODO VERDADEIRO CRENTE É PROPRIEDADE
EXCLUSIVA DE DEUS. O verdadeiro crente é selado com o Santo Espírito da
promessa (Efésios 1:13). Se um selo real, de um mero mortal, não podia ser
violado; o que se dirá do selo de Deus? Quando nossos inimigos espirituais
tentam investir contra o verdadeiro crente, eles logo veem o Selo de Deus, e
tremem.
O Selo Real está impresso na alma do verdadeiro crente e de forma alguma
pode ser violado. O verdadeiro crente é marcado com o próprio Espírito de Deus.
O verdadeiro crente é Santuário de Deus; local onde Deus habita (I Coríntios 3:16-17;
6.19). Se Deus está habitando a “Casa”, então não há lugar para o Diabo e/ou
demônios. (II Coríntios 6:14-16) também traz luz sobre esta questão para
nós: “Não vos ponhais em jugo desigual
com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a
iniquidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e
o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo? Que ligação há entre o
santuário de Deus e os ídolos? Porque nós somos santuário do Deus vivente, como
ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles
serão o meu povo”.
Por isso, retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não
toqueis em coisas impuras; e eu vos receberei, serei vosso Pai, e vós sereis
para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso”. O texto garante que: “Não há comunhão da luz com as trevas”;
”Não há harmonia, entre Cristo e o Maligno”. Mas, também assevera que: ”Não pode haver sociedade entre a justiça
de Deus e a iniquidade do mundo”; “Não pode haver união entre crente e
incrédulo”; “Não pode haver ligação entre o santuário de Deus e os ídolos
falsos”. O verdadeiro crente observa estas coisas como uma ordenança do
Senhor e não como um ponto de vista de Deus, o qual pode ser contrariado.
E, temos que lembrar o que a Escritura diz, em I Samuel 15.22-23: “Porém Samuel disse: Tem, porventura, o
Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua
palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor
do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria,
e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitais
a palavra do Senhor, ele também te rejeitou a ti”. A desobediência à
Palavra de Deus tem o mesmo peso de se praticar feitiçaria. E nós sabemos com
quem a feitiçaria tem parte neste mundo – Satanás.
O verdadeiro crente busca obedecer a Deus em tudo e não apenas no que
lhe convier. Quem procede desta forma, será guardado de toda investida do Diabo
e/ou de seus demônios. Contra este, todas as investidas malignas, serão
frustradas. O verdadeiro crente, portanto, tem dentro de si, aquele que é maior do que o diabo (I João
4:4). Como um mais fraco poderá render ao mais forte, sendo o mais forte
Deus? Jesus conta que para um valente venha a tomar uma casa, ele tem que ser
mais valente que o que já está na casa (Lucas 11:21-22).
Maior é o que está dentro do verdadeiro crente do que o que está fora
dele. Como o Diabo e/ou seus demônios poderão saquear a “casa” onde Deus está?
Satanás que está fora de mim, não pode em nada contra Deus que está dentro de
mim. O verdadeiro crente não pode ser possesso porque o Espírito de Deus habita
dentro dele. O Diabo e/ou os demônios não podem entrar nele porque Deus está
dentro dele. O verdadeiro crente tem autoridade e poder sobre o diabo e sobre
os demônios (Lucas 10.17-19). E, para quem tenha alguma dúvida se este poder é
para todos os que creem (Marcos 16:17-18). Como pode alguém ficar possesso por
alguém sobre quem tem autoridade e poder, no Nome de Jesus, para submeter?
Ao verdadeiro crente foi-lhe concedido poder e autoridade sobre o Diabo
e os demônios. Os agentes do mal não só, não podem tomar a vida do verdadeiro
crente, como, por ele (o verdadeiro crente) eles (os agentes do mal) ainda são
repreendidos e expulsos das pessoas que estão sob sua possessão. Em meu nome
(disse Jesus) expulsarão demônios.
O verdadeiro crente exclama com a mesma alegria dos 70 ao retornarem da
missão para a qual foram enviados: “Senhor,
os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome” (Lucas 10:17). Quanto
ao verdadeiro crente, o Maligno não o toca (I João 5:18). Se Deus guarda o
verdadeiro crente, como o Maligno poderia penetrar-lhe o corpo? Quanto ao
verdadeiro crente, o Diabo e/ou seus demônios não podem tocá-lo de forma
espontânea; Sim, os agentes do mal não têm liberdade para tocar um verdadeiro
filho de Deus. Pois Deus é quem o guarda. Não podemos dizer que o Diabo tocou a
Jó como bem quis e quando bem quis. O Diabo não pôde tocar em nada de Jó nem em
Jó senão sob a permissão de Deus, pois Deus havia cercado Jó, a casa de Jó e
tudo que Jó possuía, com uma “cerca” de poder espiritual (Jó 1:10).
Não vamos tratar aqui sobre o porquê De Deus ter permitido a Satanás
tocar em Jó; no entanto, uma coisa é certa, Satanás entendia que quem está
“cercado” por Deus, ele não tem livre acesso. Deus guarda o verdadeiro crente e
o Maligno não o toca. Qual é a advertência bíblica quanto aos cuidados que
devemos ter com o Diabo e os demônios? Nunca deixe a “Casa” vazia, abandonada (Mateus.
12.43-45). O que isto tem a ver com o assunto. Tudo, pois fala sobre possessão
demoníaca. Qual é a advertência então? Certamente, esta passagem pode ser
dirigida à pessoa que experimentou uma mudança de vida quando creu em Jesus
Cristo através do Evangelho.
Aqui se aplica a verdade que “aquele que está em Cristo é uma nova
pessoa; as coisas antigas passaram e tudo se fez novo” (II Coríntios 5:17). Pois
fala de “casa varrida/limpa” = Purificação de pecados; também, purificação do
coração, da mente, em relação à sujeira que se alojou em nós, provenientes dos
valores e princípios do mundo que jaz na maldade; Fala de “casa ornamentada” =
Fala de uma nova “decoração”; Novos valores e princípios, agora, relativos ao
Reino dos Céus.
Então, qual é o problema desta “casa”? O problema é que ela está vazia,
abandonada. E o que isto quer dizer? O que significa? Significa que não podemos
nos afastar da presença de Deus. Sim, fomos salvos pela graça de Deus para
andarmos no Caminho da Graça sem jamais retrocedermos dele. Deixar a “casa”
vazia é negligenciar tão grande salvação. (Hebreus
2:1-3): “Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às
verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos. Se, pois, se tornou
firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência
recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?
”
Significa que não devemos abandonar a “Casa do Pai”. (Hebreus 10.25): “Não deixemos de congregar-nos, como é
costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o
Dia se aproxima”. O crente que negligência as “coisas” de Deus e não desenvolve
a sua salvação (Filipenses 2:12-16), corre o risco de retroceder até que se
perca novamente.
Aí o segundo estado dele será pior do que o primeiro (II Pedro 2:20-22)
lembremo-nos que quando o Espírito Santo se apartou de Saul (o oposto é
verdadeiramente o causador – Saul foi se apartando do Espírito Santo), o
demônio se apossou dele (I Samuel 16:14). Antes que alguém venha sugerir que
tanto o Espírito de Deus quanto o espírito maligno são enviados por Deus,
afirmo, com certeza, de que, na questão de Saul, ao deixá-lo o Espírito do
Senhor, Deus o deixou à mercê dos demônios.
Creio que Paulo entendeu isto e tratou do mesmo jeito ao jovem que tinha
relações ilícitas com a mulher de seu próprio pai: “Geralmente, se ouve que há
entre vós imoralidade e imoralidade tal, como nem mesmo entre os gentios, isto
é, haver quem se atreva a possuir a mulher de seu próprio pai. E, contudo,
andais vós ensoberbecidos e não chegastes a lamentar, para que fosse tirado do
vosso meio quem tamanho ultraje praticou? Eu, na verdade, ainda que ausente em
pessoa, mas presente em espírito, já sentenciei, como se estivesse presente,
que o autor de tal infâmia seja, em nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o
meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor, entregue a Satanás para
a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor
Jesus” (I Coríntios 5:1-5). Se a pessoa resiste a Deus em relação à Palavra de
Deus e à ação do próprio Espírito de Deus, então que ela seja exposta ao Diabo
e seus demônios para ver se dessa forma ela cai em si e retorne ao Salvador.
A conivência e a tolerância jactanciosa para com o pecado na “Casa de
Deus” se torna pedra de tropeço e espaço para o Diabo fazer maior estrago. E,
como o juízo começa pela “casa” de Deus (I Pedro 4:17). A verdade é, que onde
Deus não está, a “casa” fica exposta aos espíritos malignos. O que fazer,
então, para estarmos sempre seguros em Cristo e vencermos o maligno? O
verdadeiro crente deve manter a “casa” sempre cheia do Espírito: Todo
verdadeiro crente deve sempre ser cheio do Espírito Santo (Efésios 5:18); deve,
todos os dias, andar no Espírito Santo (Gálatas 5:16); Deve viver, constantemente,
no Espírito Santo (Gálatas 5:25); Deve frutificar o fruto do Espírito Santo (Gálatas
5.22-23); Deve orar, em todo o tempo, no Espírito Santo (Efésios 6:18).
Não menospreze Satanás, mas também não o superestime; apenas tenha o
devido cuidado (I Pedro 5:8). Se o Diabo e/ou qualquer demônio não podem
possuir um verdadeiro crente, eles, então, vão buscar persuadi-lo a abrir a
guarda. Guarda aberta, o que mais poderá acontecer dependerá de até onde tal
crente se afasta do centro da vontade de Deus.
O grande pregador Charles Haddon Spurgeon disse certa vez: “O Diabo está por perto e não são poucos
os que estão com ele”. No entanto, não devemos temê-los. Pois maior é o que
está em nós e conosco, e mais poderosos são os que estão a nosso favor, do que
os que estão contra nós. Prestemos atenção à posição “geográfica” espiritual de
que Pedro está falando: “O Diabo, vosso
adversário, anda em derredor”. O verdadeiro crente se posiciona no centro da
vontade de Deus e, este fato, se dá, pelo testemunho de obediência, à Palavra
de Deus, dado por ele. Ao redor do verdadeiro crente tem um outro “pelotão”: (Salmo
34.7): “O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem (os que verdadeiramente
temem a Deus; ou seja, os verdadeiros crentes) e os livra”.
O Diabo e seus demônios têm um limite para se aproximarem dos
verdadeiros crentes e, é, ao derredor, ou seja, só após a linha, a cerca,
ocupada pelos anjos de Deus. Para o Diabo e/ou qualquer de seus demônios possam
atingir de forma mais objetiva a vida de um verdadeiro crente, sem a permissão
de Deus, como no caso de Jó, eles (o Diabo e os seus demônios) precisam seduzir
e atrair o verdadeiro crente para fora da vontade de Deus e para além da linha
salvaguardada pelos anjos de Deus.
Por isso, o Diabo e sua corja, vivem andando ao derredor enquanto lançam
seus dardos inflamados sobre os verdadeiros crentes; dardos estes que os
verdadeiros crentes podem neutralizar pela fé obediente à Palavra de Deus (Efésios
6:16). Portanto, devemos ser sóbrios e vigilantes, pois o diabo é astuto e
ardiloso. Devemos resistir ao Diabo e, então, ele fugirá de nós (Tiago 4:7); Devemos,
também, nos revestir de toda a Armadura de Deus para podermos ficar firmes
contra as ciladas do Diabo (Efésios 6:11); mas, acima de tudo, temos que
estarmos fortalecidos no Senhor e na força do seu poder (Efésios 6:10).
O verdadeiro crente não pode ser possesso por demônio enquanto anda na
luz onde o Senhor na luz está. Baixando a guarda e se afastando das coisas de
Deus, o Diabo vai conseguir produzir alguma ingerência sobre tal crente
descuidado e conformado com o mundo caído, buscando fazer dele um tropeço
enquanto continua buscando afastá-lo completamente do “arraial” de Deus, quando
poderá devorá-lo. Fora do “arraial” de Deus, a situação de tal crente poderá se
tornar à semelhança da situação de Saul, quando se afastou de tal maneira de
Deus que o Espírito Santo o deixou e a “casa” ficou vazia e à mercê de
salteadores que buscam um covil para se esconderem. Portanto, sejamos sóbrios e
vigilantes, para que, a nossa situação espiritual, no Senhor, não seja
invertida.
Já vi o demônio se manifestar em uma pastora, batizada pelo Espírito
Santo, mas nem por isso deixou de ser usada por Satanás. Um cristão que vive em
eterna rebeldia e arrogância na Casa do Senhor, que não obedece a liderança da
igreja, que espalha a discórdia e a contenda entre irmãos, que se recusa ser
discipulado por se se achar autossuficiente, que não participa da comunhão
verdadeira entre os irmãos, que quer gloriar-se a si mesmo, este cristão é uma
porteira escancarada para o Diabo, suas potestades e principados. Como já foi
dito: sejamos sóbrios e vigilantes, para que, a nossa situação espiritual, no
Senhor, não seja invertida.