RESTAURANDO
VIDAS (J.F.de ASSIS)
A palavra restauro é, etimologicamente, uma derivação de restaurar;
por sua vez, o verbo restaurar vem
do Latim restaurāre. Restauro é
ato ou efeito de restaurar; restauração; trabalho de recuperação de obras de
arte, construções, etc., danificadas ou desgastadas; e reparação; conserto.
A conservação
e restauro de obras de arte é uma atividade que tem por objeto a
reparação ou atuação preventiva de qualquer obra que, devido a sua antiguidade
ou estado de conservação, seja necessária uma intervenção para preservar sua
integridade física, assim como seu valor artístico, respeitando ao máximo a
essência original da obra. Na opinião de Cesare Brandi,
"o restauro deve se dirigir ao reestabelecimento da unidade potencial da
obra de arte, sempre que isso seja possível sem cometer uma falsificação
artística ou uma falsificação histórica, e sem apagar pegada alguma do
transcurso da obra de arte através do tempo.
Na arquitetura,
o restauro é apenas do tipo funcional, para preservar a estrutura e unidade do
edifício, ou reparar rachaduras ou pequenos defeitos que podem surgir nos
materiais. Até o século XVIII, os restauros arquitetônicos só preservavam as
obras de culto religioso, dado seu caráterlitúrgico e simbólico,
reconstruindo outro tipo de edifício sem respeitar sequer o estilo original.
Por fim, desde o auge da arqueologia ao
final do século XVIII, especialmente com as escavações dePompeia e Herculano,
se tendeu a preservar a medida do possível qualquer estrutura do passado,
sempre e quando tivesse um valor artístico e cultural.
Ainda assim,
no século XIX os ideais românticos levaram
a buscar a pureza estilística do edifício, e a moda do historicismolevou a planejamentos como os
de Viollet-le-Duc, defensor da intervenção em
monumentos com base em um certo ideal estilístico. Na atualidade, se tende a
preservar ao máximo a integridade dos edifícios históricos.
Na área da pintura, tem evoluído desde uma primeira
perspectiva de tentar recuperar a legibilidade da imagem, acrescentando se
fosse necessário partes perdidas da obra, a respeitar a integridade tanto
física como estética da obra de arte, fazendo as intervenções necessárias para
suas conservação sem que se produza uma transformação radical da obra. A
restauração pictórica adquiriu um crescente impulso a partir do século XVII,
devido ao mal estado de conservação de pinturas a fresco,
técnica bastante corrente naIdade Média e
no Renascimento.
Do mesmo
modo, o aumento do mercado de antiguidades proporcionou a restauração de obras
antigas caras a sua posterior comercialização. Por último, a escultura tem sido
uma evolução paralela: desde a reconstrução de obras antigas, geralmente em
relação a membros mutilados (como a reconstrução doLaocoonte em
1523-1533 por parte de Giovanni Angelo Montorsoli),
até a atuação sobre a obra preservando sua estrutura original, mantendo em caso
necessário um certo grau de reversibilidade da ação praticada.
Pode
remontar-se a preocupação com a conservação do património histórico e cultural
à Idade Antiga,
quando, no Império Romano, o imperador Alexandre
Severo, no século III,
determinou a aplicação de multas a quem adquirisse uma casa com o a finalidade
de demoli-la. O Império Romano possuía um código de posturas que visava a
conservação da imagem da cidade. Essa preocupação transmitiu-se ao Império Bizantino, que, já ao final do século IV,
possuía leis que proibiam a desfiguração das fachadas e dos seus ornamentos.
No início da Idade Moderna,
no período do Renascimento Italiano, conhecem-se novas
medidas de proteção do património, por iniciativa da Igreja, visando a
conservação de documentos e dos seus edifícios. Mais tarde, durante o barroco,
tiveram lugar obras de conservação e
reconstrução de antigos castelos e catedrais,
tanto na Alemanha quanto
na Itália.Na França,
à época da Revolução Francesa, publicou-se um decreto que
considerava propriedade pública todas as antiguidades nacionais.
No início do século XIX,
na Alemanha, existiu uma resolução de proteção ao património, legislação essa
ampliada no início do século XX.
A moderna legislação sobre o tema, entretanto, iniciou-se em outubro de 1931, com a chamada Carta de
Atenas. Deste então, mais de quatro dezenas de normas de conduta
internacionais voltadas para a preservação do património histórico e cultural
tem sido publicadas.
O Kintsugi é uma técnica japonesa de restauração de cerâmica, que quer dizer:
colagem com ouro. Diz-se
que tudo começou com o shogun Ashikaga Yoshimasa que enviou para a China, para
que lá fosse consertada, uma peça de cerâmica que havia se quebrado. Seu vasilhame voltou
arranjado, mas tinhas uns grampos feios de metal que ademais tornaram o pote inservível
e tosco. Descontente, incumbiu alguns de seus comandados que encontrassem
artesãos japoneses que tivessem uma melhor solução, desenvolvendo assim uma
nova forma de consertar cerâmica. Mas, quando a peça retornou o reparo era tão feio
que ele pediu que artesãos japoneses refizessem tal restauração. Foi então que
os artesãos, imbuídos do espírito zen budista de mushin, desapego e aceitação,
consertaram a peça utilizando uma mistura de laca e pó de ouro.
O sucesso do kintsugi
foi tal, que alguns colecionadores japoneses foram acusados de quebrar
deliberadamente valiosas cerâmicas, só para consertá-las com ouro. Uma técnica
muito valorizada que converte objetos quebrados em verdadeiras obras de arte, o
kintsugi acrescenta um novo nível de complexidade estética às peças
consertadas. Faz com que antigas vasilhas coladas sejam ainda mais valorizadas
do que as que nunca se quebraram. Como se estivessem costuradas com fio de ouro
maciço por um ourives, as peças que podiam ter acabado no lixo renascem ainda
com mais beleza. Em uma grande ironia nesta época de usar e jogar no
lixo.
Na cultura japonesa, as peças que
recebem esta reparação comumente são mais valorizadas que as que estão
intactas. Isso por que sua estética trabalha mais com questões como a
transitoriedade e a impermanência do que com a beleza propriamente dita. Ao
invés de se envergonhar pelas “feridas” expostas, eles as embelezam para que
sejam uma celebração constante da vida cotidiana. Dos pequenos e grandes erros
que cometemos e da possibilidade que temos de aprender com isso. Ao
contrário de nós que queremos sempre que as coisas voltem a ser como novas,
eles querem mostrar que parte do nosso legado é aquilo que tentamos esconder
com mais determinação: as nossas falhas e defeitos.
“Ele não quebrará a cana rachada
e nem apagará o pavio que fumega” (Isaías 42:3) No livro de Isaías está escrito
que “Ele (Jesus) não quebrará a cana rachada e nem apagará o pavio que fumega”
(42:3). Esses dias li um comentário incrível sobre esse versículo onde dizia
que naquele tempo as crianças brincavam de fazer flauta usando pequenos pedaços
de junco que encontravam no meio das plantações de cana. Mas, enquanto tentava
fazer os buracos da flauta de brinquedo, muitas vezes, a cana se rachava e eles
a jogavam fora, pois havia centenas de outros pedaços que poderiam utilizar.
Outra figura tinha haver com
pavios de fios de linho, que as donas de casa utilizavam para iluminar o
ambiente. O pavio era colocado em um jarro com azeite e aceso. Quando o azeite
acabava e o pavio fumegava, um mau cheiro era exalado. Neste momento a dona de
casa pegava aquele pavio fumegante e jogava fora, pois ela tinha muitos outros
fios dentro de casa.
Essas figuras, usadas por Isaías,
tem a ver com o Messias que ele anunciava. Mas, usando essas figuras para nossa
própria vida, podemos dizer que Deus nos toma, muitas vezes, como canas
rachadas, mas não nos descarta. Ás vezes, somos rachados por causa dos
processos de relacionamentos, das aparentes “perdas”, dos desafios pelos quais
estamos vivendo, das impossibilidades, mas Ele nos restaura. Deus pode fazer de
nossa vida, ainda que ela esteja como uma cana rachada, um instrumento de sua
orquestra.
Outras vezes parecemos pavios
fumegantes, apagados, exalando o mau cheiro do desânimo e do pessimismo. Mas
não seremos jogados no lixo da existência. Pelo contrário, Deus pode reascender
em nós uma nova luz, uma chama de amor, de otimismo, de vida. De alguma maneira
maravilhosa, Deus pode transformar os piores momentos de nossa vida em momentos
maravilhosos. Ele recupera o nosso senso de autoestima, de valor pessoal, de
que somos amados e podemos amar.
Deus não descarta você, Ele pode
restaurar o que seus olhos naturais não podem ver, Ele é o Deus do impossível,
é o Deus que abriu o mar para Moisés, que livrou Daniel da cova dos Leões, é o
Deus de ontem, de hoje e para sempre. Ele pode fazer de você de uma cana
rachada, uma vida restaurada. Ele pode fazer de você, de um pavio fumegante,
uma chamar ardente.
O que está rachado em sua vida?
Sua família? Suas amizades? Seu coração ferido? E o que tem sido apagado em
você? O seu ministério? Os seus talentos? Não limite o poder de Deus ao que as
circunstâncias dizem sobre a sua vida. Nós não cremos em circunstâncias, cremos
em um Deus vivo e fiel, que faz nova todas as coisas. Se lance no Senhor, lance
toda sua vida, lance todas as suas ansiedades, lance todos os seus medos, lance
sua família, lance tudo, pois aquele que começou a boa obra na minha e na sua
vida, terminará.
Deixe-o então restaurar a sua vida, pois
aquilo que perdido foi, não se compara com o que há de vir. “Mas, como
está escrito: As coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem
penetraram o coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. ” (I
Coríntios 2:9)
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