ENTENDENDO O PENTATEUCO (J.F. de ASSIS)
O Antigo Testamento é composto
por 39 livros. Esses livros foram agrupados de forma a facilitar o entendimento
do leitor, sendo (Pentateuco, Livros históricos, Livros poéticos, profetas
maiores e profetas menores). Dentro desse agrupamento de livros, temos um grupo
muito especial de escritos sagrados que se chama Pentateuco. Pentateuco é uma
palavra grega “pentateuchos”,
que significa “cinco volumes” e que é usada para designar os cinco primeiros
livros da Bíblia (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio). Os judeus
também chamavam esses livros de “A lei”
e usam uma palavra muito conhecida para designá-los: Torá. A autoria do Pentateuco, tradicionalmente considerado como Lei de
Moisés, foi atribuída a este grande líder do povo hebreu tanto pelo judaísmo
como pelo cristianismo antigo. Hoje, sabe-se que nenhum destes livros se pode
atribuir a um único autor e menos ainda a Moisés, pois todos tiveram uma
história literária complexa.
Para além desta referência a Moisés, os livros do Pentateuco têm uma certa
sequência temática, pois descrevem as origens do povo de Israel até à sua
definitiva instalação em Canaã. Nomeadamente: a origem da humanidade e do
próprio povo hebreu na época patriarcal, a saída do Egito e a longa travessia
do deserto; é nesta última fase que aparecem enquadradas as leis fundamentais
para a vida religiosa e social dos israelitas. Longas secções narrativas
alternam com grandes conjuntos de leis. O modo de escrever daquele tempo,
misturando História, Direito e Liturgia, não coincide com o nosso modo de fazer
História; ao mostrarem a intervenção de Deus nessa História, os autores do
Pentateuco pretendem também apresentá-la como modelo da presença de Deus na
História de cada povo.
FORMAÇÃO DO PENTATEUCO
Segundo alguns estudiosos, o texto atual deste conjunto resultaria de
uma história literária anterior, a que chamam “fontes” ou “documentos”
conhecidos com o nome de Javista (J), Eloísta (E), Sacerdotal (P) e
Deuteronomista (D). De qualquer modo, o Pentateuco não foi escrito de uma só vez
nem é obra de um único escritor. Foi escrito a partir de tradições orais e
escritas que se foram juntando progressivamente e formando unidades maiores ao
longo da história. A junção de todo o material só se deu na época pós-exílica,
altura em que se pode falar da redação final do Pentateuco. Certamente que o
período à volta do Exílio influenciou a leitura de todo esse património
histórico e religioso; mas, as tradições e outros materiais podem ser bastante
antigos e manter, na sua forma final, os traços dessa antiguidade. Provavelmente,
o processo de formação dos cinco primeiros livros da Bíblia desenvolveu-se, nas
suas linhas gerais, em vários períodos.
No início estaria um núcleo narrativo histórico bastante restrito, da
época de Salomão. Este núcleo é depois retomado e ampliado por volta dos finais
do séc. VIII a.C., recolhendo tradições e fragmentos do reino do Norte e
relendo tradições antigas numa nova perspectiva. No séc. VIII aparece o
Deuteronómio primitivo, descoberto no tempo de Josias (622 a.C.) e incluindo
essencialmente leis e um pequeno prólogo. É depois ampliado para dar o texto atual
de Dt 1-28. As questões levantadas pelo Exílio fazem aparecer a grande obra
histórica «deuteronomista» que se vai elaborando ao longo de várias fases,
integrando, de algum modo, todos os materiais já recolhidos anteriormente. Esta
grandiosa reconstrução provoca uma série de retoques «deuteronomistas», ao
longo de todo o texto do Pentateuco, que já estaria redigido.
No exílio da Babilónia aparece o «escrito sacerdotal primitivo», obra
dos sacerdotes exilados. Depois do regresso do Exílio, no séc. V, este escrito
é combinado com os precedentes, retocado e aumentado nalguns aspectos e vai
ocupar um lugar dominante no conjunto da narração. A esta redação final se deve
o termo de toda a trama narrativa na morte de Moisés e, logicamente, a
delimitação do Pentateuco, separando o Deuteronómio do resto da história
deuteronomista. Este trabalho deve ter sido concluído por volta do ano 400 a.C.
O PENTATEUCO E A HISTÓRIA DE ISRAEL
O Pentateuco recebeu inegáveis influências de todos estes documentos ou tradições
e de muitos outros fatores ligados à História e à religião de Israel. Mas, o
que os autores do Pentateuco pretendem manifestar nesta História Sagrada não é
tanto o povo com as suas virtualidades e peripécias históricas, mas o domínio
absoluto de Deus sobre todas as coisas e sobre todas as instituições humanas,
incluindo a realeza, que no Médio Oriente era considerada de origem divina. O
poder vem de Deus e da sua Palavra, transmitida pelos seus intermediários.
Esta “Lei” não é um simples conjunto de leis humanas; é um “ensinamento”
para viver segundo a vontade de Deus, um chamamento à perfeição e à santidade:
«Porque Eu sou o Senhor que vos fez sair do Egito, para ser o vosso Deus. Sede
santos, porque Eu sou santo. (Levítico 11:45) O Pentateuco é a Carta magna do
judaísmo pós-exílico. Após esta difícil, mas frutífera experiência, o Estado
judaico, antes apoiado nas estruturas da monarquia davídica, passa a reger-se
unicamente pela “Lei” de Deus e deixa-se orientar pelos que detêm o monopólio
do culto, os sacerdotes. Uma comunidade monárquica transforma-se numa
comunidade cultual em honra do Deus da Aliança. São os sacerdotes que editam e
reeditam a Lei.
Sendo uma História Sagrada em que se manifesta a presença do Deus da
Aliança na vida do seu povo, o Pentateuco desenvolve-se a partir de três fatores
principais: a epopeia do Êxodo, a Lei do Sinai e a fé num Deus único. Por isso,
mais tarde, e diferentemente de outros povos, Israel não necessitou da
monarquia para sobreviver.
LEITURA CRISTÃ DO PENTATEUCO
O Pentateuco é uma história nunca terminada, mas sempre aberta às
infinitas possibilidades do Senhor da História. Podemos, pois, dizer que o
resto do Antigo Testamento é, de algum modo, uma releitura contínua do
Pentateuco à luz de novos acontecimentos da História de Israel e do mundo que o
rodeia. Mas o Pentateuco também aponta para um novo Êxodo, para uma outra Terra
Prometida, para uma outra presença de Deus Jesus Cristo. Ele é a nova Lei, a
nova manifestação de um Deus que nunca cessa de renovar a Aliança com o seu
povo. Cristo e os primeiros discípulos leram o Pentateuco como uma história
aberta que se completa na vinda do Messias. A partir daí a relação do homem com
Deus já não passa pela observância material da Lei, mas pelo seguimento de
Cristo. Porém, aquilo que se põe de lado não é o Pentateuco, mas apenas a
interpretação fechada que dele fez o judaísmo rabínico.
Assim, o Pentateuco não só não impede, mas ajuda a compreensão de Cristo
e do seu Evangelho: ao lê-lo, pensamos no Evangelho, e quando lemos o
Evangelho, encontramos as suas raízes no Pentateuco; não se pode ler os
mandamentos da Lei, sem os comparar com os mandamentos da Nova Lei as
Bem-aventuranças. Os cristãos reconhecem em Cristo a Palavra de Deus encarnada,
e no Evangelho, a Nova Lei; Lei que não vem abolir a antiga, mas dar-lhe toda a
perfeição (Mateus 5:17-18). Cristo, de que Moisés era apenas uma figura, veio
fundar um novo povo, uma nova comunidade, liberta na Páscoa da sua
Paixão-Ressurreição. Numa palavra, Cristo é, para os seus discípulos, a nova
Lei, a nova Páscoa, o novo Templo de Deus entre os homens (João 2:21; Apocalipse
21:3.22), a nova Aliança, não apenas com um povo, mas com toda a Humanidade.
O LIVRO DO GÊNESIS: O primeiro livro da Bíblia recebeu o nome de Gênesis, porque suas linhas
contam a história da criação do mundo e do próprio homem, o surgimento do
pecado e do ódio e outros sentimentos baixos que afetaram a criação divina de
forma direta. O livro trata das raças e do próprio povo de Israel. Sua
narrativa data dos séculos IX e VI a.C, sendo que sua escrita final se deu no
século V a.C.
Gênesis1:11 é a história
das origens da humanidade. Gênesis 12:25 é a história dos patriarcas Abraão,
Isaac, Jacó e José (um dos filhos de Jacó). O livro começa narrando
a história da criação do mundo e de todos os seres vivos. A criação não é mero
capricho de Deus, mas um gesto de amor. A semana é apenas um artifício
literário para ensinar que tudo o que existe é obra de Deus e quer reforçar o
descanso sabático.
O ápice desta criação e,
portanto, desta narração é a criação do homem e mulher a imagem e semelhança de
Deus. Ser imagem e semelhança de Deus significa ser dotado de vontade e
liberdade. Depois mostra a entrada e evolução do pecado atingindo a família com
o assassinato de Abel. Para conter o avanço do pecado vem o dilúvio. Com a história
da Torre de Babel, o autor sagrado mostra como os homens novamente tentam
ocupar o lugar de Deus e são espalhados por toda a terra.
A seguir o texto
apresenta Abraão, um pastor seminômade de Ur da Caldéia, que por inspiração
divina deixa sua terra e sua família e vai à procura da terra prometida. O
objetivo de o redator não descrever os fatos em si mesmos, mas descobrir neles
a presença divina. O livro traz uma série de ensinamentos importantes. Estão
apenas alguns elencados: Tudo o que existe foi criado por Deus criado com
sabedoria e amor, portanto todas as criações são boas; Deus existe antes de
todo tempo, é eterno, não foi criado; Homem e mulher são imagem e semelhança de
Deus e , como tal, são os senhores de toda criação; A mulher é companheira do
homem, ambos são uma só carne: Todo mal que existe no mundo é consequência da
desobediência de todos nós seres humanos; Apesar do pecado, Deus não abandona a
sua criatura., mas estabelece uma ralação amorosa: Assim, Deus não está longe e
alheio à vida humana, mas participa de nossa história.
O LIVRO DO ÊXODO: Na Bíblia hebraica,
esse livro se chama Nomes, porque começa relatando os nomes dos filhos de Jacó
que desceram, para o Egito. Na Bíblia grega recebeu o título de Êxodo, que
significa saída. Esse título resume o conteúdo do livro, a saída ou libertação
dos israelitas do Egito. Porém, o livro não narra apenas a saída do Egito, mas
sobretudo, a manifestação de Deus na montanha do Sinai e a Aliança. A
libertação é narrada nos 15 primeiros capítulos. O livro é a continuação do
Gênesis, após descrever rapidamente a situação humilhante dos israelitas no
Egito, o livro começa a narrar a história do libertador, Moisés. Descreve a
travessia entre o Egito e o monte Sinai, termina narrando a construção da Tenda
ou Tabernáculo, onde Deus habitará.
O livro está assim
dividido: Libertação do Egito; Caminho
pelo deserto do Sinai; Aliança do Sinai. A historicidade dos fatos narrados
é aceita unanimemente. Mas trata-se de uma história religiosa e de caráter
popular, redigida muito tempo depois dos acontecimentos. O livro procura
ressaltar a intervenção providencial de Deus na libertação e formação do povo
eleito. Por isso, o autor sagrado deixa de lado as causas naturais dos
acontecimentos e descreve tudo com ação milagrosa de Deus. Não se pode negar a
ação divina na libertação de Israel da opressão do Egito, mas não se pode dizer
que tudo aconteceu por uma série de intervenções milagrosas durante quarenta
anos.
Podemos dizer que este
livro é ponto central do AT, é o Evangelho do AT. Como os Evangelhos este livro
contém a Boa Nova da libertação. A experiência fundamental do povo de Israel é
a experiência do deus Libertador. Por isso, as narrações do Êxodo tornaram-se o
protótipo de todas as outras libertações. Ainda hoje, estas narrações exercem
grande influência. O faraó tornou-se símbolo de todas as opressões e alienações
atuais; Israel representa os oprimidos e marginalizados. O próprio NT serve-se
muitas vezes da temática do Êxodo. O Concilio Vaticano II definiu a Igreja como
“povo peregrino” em busca da Pátria Celeste.
O LIVRO DO LEVÍTICO. Esse título faz
referência ao conteúdo do livro, que é um grande código de leis, na sua maioria
referentes ao culto e ao sacerdócio. Todos sacerdotes judeus eram da tribo de
Levi. Daí o nome do livro: levítico, isto é, da tribo de Levi, ou seja, os
sacerdotes e levitas. Podemos dizer que o livro é um grande ritual, em que se
descrevem os sacrifícios, as festas, as ofertas, a consagração dos sacerdotes,
o comportamento de todo povo diante de seu Deus. O livro está situado no
coração do Pentateuco como se fosse o coração da Lei. Todas
as leis nele recolhidas são consideradas como dadas por Deus no monte Sinai
durante a celebração da Aliança. Mas uma análise mais profunda mostra que o
livro contém leis muito posteriores, que foram reunidas e colocadas no contexto
da aliança do Sinai.
O livro pode ser dividido em duas grandes partes:
– Parte cultual, com leis referentes ao culto
(Lv 1-16).
– Parte legal, contendo leis que abrangem toda
a vida do povo (Lv 17-26).
A primeira parte pode ser assim subdividida:
– Lv 1-7 – Leis sobre os sacrifícios: o
holocausto, oblações, sacrifícios de comunhão, expiação e reparação.
– L v 8-10 – Leis sobre os sacerdotes.
– Lv 11-16 – Leis sobre a pureza e impureza.
A segunda parte pode ser chamada de Código de Santidade. A santidade deve
abranger todos os níveis da vida do povo: social, cultual e temporal. O
capítulo 27 é um apêndice com normas sobre votos e tarifas. Este livro é
importante para uma compreensão do AT e do NT. Não podemos esquecer que Jesus,
os Apóstolos e a igreja Primitiva seguiram muitas das prescrições aí descritas.
Podemos também entender a atitude de Jesus contra os fariseus que insistiam,
sobretudo nas questões de impureza e pureza.
Dentre muitos aspectos
doutrinais, elencamos estes: O culto: é a concretização essencial do
sacrifício. Oferecer sacrifícios é uma prática cultual muito antiga, comum a
muitos povos. São um meio essencial de aproximar o homem de Deus. A importância
da santidade: o conceito de santidade é, ainda, muito imperfeito; atém-se ao
exterior das pessoas, contatos, alimentos, comportamentos. Mas essa santidade
exterior deve ser reflexo da santidade interior. Não se trata de uma santidade
religiosa, mas abrange toda a vida das pessoas.
O pecado: é visto como
uma transgressão da Lei. Desobedecê-la é afastar-se de Deus. Por isso, o livro
insiste tanto na necessidade de expiação, purificação para restabelecer a
comunhão com Deus. Muitas destas Leis preservavam a saúde e o bem-estar do
povo. Tinham o objetivo de eliminar muitas doenças, não por ritos mágicos, mas
por meios naturais. Por mais estranho que pareça, o Levitico é um livro
importante na historia da salvação. Não se explica por si mesmo, mas deve ser
entendido no contexto global do AT.
O
LIVRO DE NÚMEROS. Na Tradição hebraica, esse livro é denominado
Deserto, justamente porque narra a travessia do deserto pelos israelitas. Porém
na tradução grega, recebeu o nome de Números por causa dos recenseamentos
apresentados, sobretudo nos capítulos 1-4 e 26. O livro está intimamente unido
aos livros do Ex e do Dt, a unidade do livro se deve ao quadro geográfico, isto
é, o deserto entre o monte Sinai e as estepes da região de Moab, começa com uma
indicação cronológica.
Descreve os últimos
vinte dias passados no monte Sinai, os trinta e oito anos no deserto perto de
Cades Barnéa e os seis meses na região de Moab. Os últimos acontecimentos no
monte Sinai antes da partida são o recenseamento dos homens aptos para a
guerra; a disposição das várias tribos no acampamento; uma série de prescrições
sobre os levitas e outras leis; a celebração da páscoa; a apresentação da nuvem
que cobre o tabernáculo. Logo depois, começa a marcha pelo deserto sob a
direção do sogro de Moisés, que conhecia bem a região, pois era morador do
Sinai.
A seguir, o livro apresenta
as murmurações e lamentações do povo pelas dificuldades da viagem. Depois
apresenta uma série de prescrições sobre as ofertas de alimento em alguns
sacrifícios e sobre a violação do Sábado.
Em seguida narra a história do adivinho Balaão
que ao invés de amaldiçoar, bendiz o povo de Israel; depois a idolatria dos
israelitas provocada pelas mulheres de Moab e Madian, o castigo divino e o zelo
de Finéias, neto de Aarão. É feito um novo recenseamento para dividir a terra
prometida. Depois narra a história de Josué, a vitória sobre os madianitas, a
divisão da Transjordânia, a retrospectiva das etapas do caminho pelo deserto,
divisão de Canaã, termina dando disposições sobre as cidades refúgios para os
homicidas e sobre a herança das mulheres casadas.
O livro pode ser
dividido em três partes, tendo como base os três principais lugares onde os
israelitas acamparam: o monte Sinai
(aproximadamente 20 dias), Cades Barnéa
(38 anos) e as planícies de Moab
(mais ou menos 6 meses):
Números 1:10,10 – no monte Sinai.
Números 10, 11-21 – no deserto entre o monte
Sinai e a região de Moab.
Números 22-36 – nas planícies de Moab. O livro
apresenta o Israel do deserto como Israel ideal. Mas nem por isso deixa de
narrar as revoltas sob as mais variadas formas: murmurações, desânimo, rejeição
da mediação de Moisés, descrença, etc. Na teologia do autor, o deserto é o
lugar em que Deus habita e caminha com seu povo, mas é também o lugar do
pecado, da ingratidão, da revolta contra Deus.
O LIVRO DO DEUTERONÔMIO. O último livro do Pentateuco recebeu este nome que significa
exatamente segunda (deuteros) lei (nomos). Na realidade, não se trata de uma
segunda Lei, mas de uma segunda cópia da Lei. A maior parte do livro é formada
por leis que repetem muitas vezes as apresentadas em Êxodo e Levítico. Na
Bíblia Hebraica, esse livro é denominado Palavras, com referência aos discursos
de Moisés nele contidos. Sua colocação no final do Pentateuco se deve à sua geografia e cronologia.
É situado na região de Moab, no último ano da peregrinação pelo deserto, pouco
antes da entrada na terra prometida.
O livro é formado por
três discursos de Moisés, pronunciados em Moab pouco antes de sua morte. O
objetivo dos discursos é confirmar a aliança do Sinai:
primeiro discurso de Moisés – Dt 1, 1-4, 40.
segundo discurso de Moisés (primeira parte) Dt 4, 41-11,32.
segundo discurso de Moisés (segunda parte) Dt 26, 16-28, 69
terceiro discurso de Moisés – Dt 29, 1-30, 20
apêndice histórico – Dt 31-34.
Embora os discursos do
Deuteronômio sejam atribuídos a Moisés, seus verdadeiros autores e
destinatários não viveram no século XIII a C., mas provavelmente no século
VIII. O livro foi se formando gradativamente entre 750 e 400 a C. Provavelmente
o núcleo central do livro (4, 1-28; 5, 1-9, 10; 12, 1-28, 46; 30, 11-20; 31,
9-13) foi redigido por um levita no reino de Israel nos meados do século VIII a
C. Ele parece reunido a pregação de levitas itinerantes que percorriam o País,
ensinando a Lei e relembrando a aliança do Sinai.
Por ocasião da
destruição do reino de Israel, em 722 a C, o texto original do Deuteronômio foi
trazido para o reino de Judá, talvez junto com o documento eloísta.
Provavelmente o rei Ezequias (715-687 a C) serviu-se deste documento na sua
reforma religiosa. O livro teria então recebido alguns acréscimos. Mas na
reforma religiosa de Josias (640-609 a C), quando por ocasião da restauração do
Templo (622 a C), se encontrou o Livro da Lei. Os biblistas concordam em
afirmar que este livro é o Deuteronômio.
Os dois grandes
protagonistas do Livro são Deus e Israel. O Deus de Abraão, Isaac e Jacó que se
revelou a Moisés no Monte Sinai, escolhendo para si um povo dentre todos os
povos da terra. Esta escolha amorosa exige de Israel uma resposta amorosa. Os
homens se uenm por meio de pactos e alianças. Deus aceitou este modo dos homens
se relacionarem e uniu-se a eles através da aliança. Este importante tema
perpassa todo o Pentateuco. Os escribas que
fizeram a última redação dos cinco livros estruturaram todo o texto com base na
teologia da aliança divididos em quatro períodos: A criação até Noé; De Noé a
Abraão; De Abraão a Moisés; De Moisés a Josué.
A primeira é descrita
em Gênesis 9:1-17, o arco-íris no céu é o seu sinal. A aliança com Abraão foi
depois renovada com Isaac e Jacó. A aliança do Sinai é a mais importante de
todas. Ela determina o nascimento do Povo de Deus. Enquanto as alianças com Noé
e Abraão eram muito mais uma promessa gratuita de Deus, a do Sinai requer maior
participação humana. A aliança de Siquém marca o quarto período. Josué propõe
ao povo servir a Deus ou a outros deuses, o povo se compromete a servir
exclusivamente a Deus.
1 Depois reuniu Josué todas as tribos de Israel em Siquém; e chamou
os anciãos de Israel, e os seus cabeças, e os seus juízes, e os seus oficiais;
e eles se apresentaram diante de Deus.
2 Então Josué disse a todo o povo: Assim diz o Senhor Deus de
Israel: Além do rio habitaram antigamente vossos pais, Terá, pai de Abraão e
pai de Naor; e serviram a outros deuses.
3 Eu, porém, tomei a vosso pai Abraão dalém do rio e o fiz andar por
toda a terra de Canaã; também multipliquei a sua descendência e dei-lhe a
Isaque.
4 E a Isaque dei Jacó e Esaú; e a Esaú dei a montanha de Seir, para
a possuir; porém, Jacó e seus filhos desceram para o Egito.
5 Então enviei Moisés e Arão e feri ao Egito, como o fiz no meio
deles; e depois vos tirei de lá.
6 E, tirando eu a vossos pais do Egito, viestes ao mar; e os
egípcios perseguiram a vossos pais com carros e com cavaleiros, até ao Mar
Vermelho.
7 E clamaram ao Senhor, que pôs uma escuridão entre vós e os
egípcios, e trouxe o mar sobre eles, e os cobriu, e os vossos olhos viram o que
eu fiz no Egito; depois habitastes no deserto muitos dias.
8 Então eu vos trouxe à terra dos amorreus, que habitavam além do
Jordão, os quais pelejaram contra vós; porém os entreguei nas vossas mãos, e
possuístes a sua terra, e os destruí de diante de vós.
9 Levantou-se também Balaque, filho de Zipor, rei dos moabitas e
pelejou contra Israel; e mandou chamar a Balaão, filho de Beor, para que vos
amaldiçoasse.
10 Porém eu não quis ouvir a Balaão; pelo que ele vos abençoou
grandemente e eu vos livrei da sua mão.
11 E, passando vós o Jordão, e vindo a Jericó, os habitantes de
Jericó pelejaram contra vós, os amorreus, e os perizeus, e os cananeus, e os heteus,
e os girgaseus, e os heveus, e os jebuseus; porém os entreguei nas vossas mãos.
12 E enviei vespões adiante de vós, que os expulsaram de diante de
vós, como a ambos os reis dos amorreus; não com a tua espada nem com o teu
arco.
13 E eu vos dei a terra em que não trabalhastes, e cidades que não
edificastes, e habitais nelas e comeis das vinhas e dos olivais que não
plantastes.
14 Agora, pois, temei ao Senhor, e servi-o com sinceridade e com
verdade; e deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais além do rio e
no Egito, e servi ao Senhor.
15 Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor,
escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que
estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém
eu e a minha casa serviremos ao Senhor.
16 Então respondeu o povo, e disse: Nunca nos aconteça que deixemos
ao Senhor para servirmos a outros deuses;
17 Porque o Senhor é o nosso Deus; ele é o que nos fez subir, a nós e
a nossos pais, da terra do Egito, da casa da servidão, e o que tem feito estes
grandes sinais aos nossos olhos, e nos guardou por todo o caminho que andamos,
e entre todos os povos pelo meio dos quais passamos.
18 E o Senhor expulsou de diante de nós a todos esses povos, até ao
amorreu, morador da terra; também nós serviremos ao Senhor, porquanto é nosso
Deus.
19 Então Josué disse ao povo: Não podereis servir ao Senhor,
porquanto é Deus santo, é Deus zeloso, que não perdoará a vossa transgressão
nem os vossos pecados.
20 Se deixardes ao Senhor, e servirdes a deuses estranhos, então ele
se tornará, e vos fará mal, e vos consumirá, depois de vos ter feito o bem.
21 Então disse o povo a Josué: Não, antes ao Senhor serviremos.
22 E Josué disse ao povo: Sois testemunhas contra vós mesmos de que
escolhestes ao Senhor, para o servir. E disseram: Somos testemunhas.
23 Deitai, pois, agora, fora aos deuses estranhos que há no meio de
vós, e inclinai o vosso coração ao Senhor Deus de Israel.
24 E disse o povo a Josué: Serviremos ao Senhor nosso Deus, e
obedeceremos à sua voz.
25 Assim, naquele dia fez Josué aliança com o povo e lhe pôs por
estatuto e direito em Siquém.
26 E Josué escreveu estas palavras no livro da lei de Deus; e tomou
uma grande pedra, e a erigiu ali debaixo do carvalho que estava junto ao
santuário do Senhor.
27 E disse Josué a todo o povo: Eis que esta pedra nos será por
testemunho, pois ela ouviu todas as palavras, que o Senhor nos tem falado; e
também será testemunho contra vós, para que não mintais a vosso Deus.
28 Então Josué enviou o povo, cada um para a sua herança.
29 E depois destas coisas sucedeu que Josué, filho de Num, servo do
Senhor, faleceu, com idade de cento e dez anos.
30 E sepultaram-no no termo da sua herança, em Timnate-Sera, que está
no monte de Efraim, para o norte do monte de Gaás.
31 Serviu, pois, Israel ao Senhor todos os dias de Josué, e todos os
dias dos anciãos que ainda sobreviveram muito tempo depois de Josué, e que
sabiam todas as obras que o Senhor tinha feito a Israel.
32 Também os ossos de José, que os filhos de Israel trouxeram do
Egito, foram enterrados em Siquém, naquela parte do campo que Jacó comprara aos
filhos de Hemor, pai de Siquém, por cem peças de prata, e que se tornara
herança dos filhos de José.
33 Faleceu também Eleazar, filho de Arão, e o sepultaram no outeiro
de Finéias, seu filho, que lhe fora dado na montanha de Efraim. (Josué 24)