quarta-feira, 31 de agosto de 2016

ENTENDENDO O PENTATEUCO


ENTENDENDO O PENTATEUCO (J.F. de ASSIS)


O Antigo Testamento é composto por 39 livros. Esses livros foram agrupados de forma a facilitar o entendimento do leitor, sendo (Pentateuco, Livros históricos, Livros poéticos, profetas maiores e profetas menores). Dentro desse agrupamento de livros, temos um grupo muito especial de escritos sagrados que se chama Pentateuco. Pentateuco é uma palavra grega pentateuchos”, que significa “cinco volumes” e que é usada para designar os cinco primeiros livros da Bíblia (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio). Os judeus também chamavam esses livros de “A lei” e usam uma palavra muito conhecida para designá-los: Torá. A autoria do Pentateuco, tradicionalmente considerado como Lei de Moisés, foi atribuída a este grande líder do povo hebreu tanto pelo judaísmo como pelo cristianismo antigo. Hoje, sabe-se que nenhum destes livros se pode atribuir a um único autor e menos ainda a Moisés, pois todos tiveram uma história literária complexa.

Para além desta referência a Moisés, os livros do Pentateuco têm uma certa sequência temática, pois descrevem as origens do povo de Israel até à sua definitiva instalação em Canaã. Nomeadamente: a origem da humanidade e do próprio povo hebreu na época patriarcal, a saída do Egito e a longa travessia do deserto; é nesta última fase que aparecem enquadradas as leis fundamentais para a vida religiosa e social dos israelitas. Longas secções narrativas alternam com grandes conjuntos de leis. O modo de escrever daquele tempo, misturando História, Direito e Liturgia, não coincide com o nosso modo de fazer História; ao mostrarem a intervenção de Deus nessa História, os autores do Pentateuco pretendem também apresentá-la como modelo da presença de Deus na História de cada povo.

FORMAÇÃO DO PENTATEUCO

Segundo alguns estudiosos, o texto atual deste conjunto resultaria de uma história literária anterior, a que chamam “fontes” ou “documentos” conhecidos com o nome de Javista (J), Eloísta (E), Sacerdotal (P) e Deuteronomista (D). De qualquer modo, o Pentateuco não foi escrito de uma só vez nem é obra de um único escritor. Foi escrito a partir de tradições orais e escritas que se foram juntando progressivamente e formando unidades maiores ao longo da história. A junção de todo o material só se deu na época pós-exílica, altura em que se pode falar da redação final do Pentateuco. Certamente que o período à volta do Exílio influenciou a leitura de todo esse património histórico e religioso; mas, as tradições e outros materiais podem ser bastante antigos e manter, na sua forma final, os traços dessa antiguidade. Provavelmente, o processo de formação dos cinco primeiros livros da Bíblia desenvolveu-se, nas suas linhas gerais, em vários períodos.

No início estaria um núcleo narrativo histórico bastante restrito, da época de Salomão. Este núcleo é depois retomado e ampliado por volta dos finais do séc. VIII a.C., recolhendo tradições e fragmentos do reino do Norte e relendo tradições antigas numa nova perspectiva. No séc. VIII aparece o Deuteronómio primitivo, descoberto no tempo de Josias (622 a.C.) e incluindo essencialmente leis e um pequeno prólogo. É depois ampliado para dar o texto atual de Dt 1-28. As questões levantadas pelo Exílio fazem aparecer a grande obra histórica «deuteronomista» que se vai elaborando ao longo de várias fases, integrando, de algum modo, todos os materiais já recolhidos anteriormente. Esta grandiosa reconstrução provoca uma série de retoques «deuteronomistas», ao longo de todo o texto do Pentateuco, que já estaria redigido.

No exílio da Babilónia aparece o «escrito sacerdotal primitivo», obra dos sacerdotes exilados. Depois do regresso do Exílio, no séc. V, este escrito é combinado com os precedentes, retocado e aumentado nalguns aspectos e vai ocupar um lugar dominante no conjunto da narração. A esta redação final se deve o termo de toda a trama narrativa na morte de Moisés e, logicamente, a delimitação do Pentateuco, separando o Deuteronómio do resto da história deuteronomista. Este trabalho deve ter sido concluído por volta do ano 400 a.C.

O PENTATEUCO E A HISTÓRIA DE ISRAEL

O Pentateuco recebeu inegáveis influências de todos estes documentos ou tradições e de muitos outros fatores ligados à História e à religião de Israel. Mas, o que os autores do Pentateuco pretendem manifestar nesta História Sagrada não é tanto o povo com as suas virtualidades e peripécias históricas, mas o domínio absoluto de Deus sobre todas as coisas e sobre todas as instituições humanas, incluindo a realeza, que no Médio Oriente era considerada de origem divina. O poder vem de Deus e da sua Palavra, transmitida pelos seus intermediários.

Esta “Lei” não é um simples conjunto de leis humanas; é um “ensinamento” para viver segundo a vontade de Deus, um chamamento à perfeição e à santidade: «Porque Eu sou o Senhor que vos fez sair do Egito, para ser o vosso Deus. Sede santos, porque Eu sou santo. (Levítico 11:45) O Pentateuco é a Carta magna do judaísmo pós-exílico. Após esta difícil, mas frutífera experiência, o Estado judaico, antes apoiado nas estruturas da monarquia davídica, passa a reger-se unicamente pela “Lei” de Deus e deixa-se orientar pelos que detêm o monopólio do culto, os sacerdotes. Uma comunidade monárquica transforma-se numa comunidade cultual em honra do Deus da Aliança. São os sacerdotes que editam e reeditam a Lei.

Sendo uma História Sagrada em que se manifesta a presença do Deus da Aliança na vida do seu povo, o Pentateuco desenvolve-se a partir de três fatores principais: a epopeia do Êxodo, a Lei do Sinai e a fé num Deus único. Por isso, mais tarde, e diferentemente de outros povos, Israel não necessitou da monarquia para sobreviver.

LEITURA CRISTÃ DO PENTATEUCO

O Pentateuco é uma história nunca terminada, mas sempre aberta às infinitas possibilidades do Senhor da História. Podemos, pois, dizer que o resto do Antigo Testamento é, de algum modo, uma releitura contínua do Pentateuco à luz de novos acontecimentos da História de Israel e do mundo que o rodeia. Mas o Pentateuco também aponta para um novo Êxodo, para uma outra Terra Prometida, para uma outra presença de Deus Jesus Cristo. Ele é a nova Lei, a nova manifestação de um Deus que nunca cessa de renovar a Aliança com o seu povo. Cristo e os primeiros discípulos leram o Pentateuco como uma história aberta que se completa na vinda do Messias. A partir daí a relação do homem com Deus já não passa pela observância material da Lei, mas pelo seguimento de Cristo. Porém, aquilo que se põe de lado não é o Pentateuco, mas apenas a interpretação fechada que dele fez o judaísmo rabínico.

Assim, o Pentateuco não só não impede, mas ajuda a compreensão de Cristo e do seu Evangelho: ao lê-lo, pensamos no Evangelho, e quando lemos o Evangelho, encontramos as suas raízes no Pentateuco; não se pode ler os mandamentos da Lei, sem os comparar com os mandamentos da Nova Lei as Bem-aventuranças. Os cristãos reconhecem em Cristo a Palavra de Deus encarnada, e no Evangelho, a Nova Lei; Lei que não vem abolir a antiga, mas dar-lhe toda a perfeição (Mateus 5:17-18). Cristo, de que Moisés era apenas uma figura, veio fundar um novo povo, uma nova comunidade, liberta na Páscoa da sua Paixão-Ressurreição. Numa palavra, Cristo é, para os seus discípulos, a nova Lei, a nova Páscoa, o novo Templo de Deus entre os homens (João 2:21; Apocalipse 21:3.22), a nova Aliança, não apenas com um povo, mas com toda a Humanidade.

O LIVRO DO GÊNESIS: O primeiro livro da Bíblia recebeu o nome de Gênesis, porque suas linhas contam a história da criação do mundo e do próprio homem, o surgimento do pecado e do ódio e outros sentimentos baixos que afetaram a criação divina de forma direta. O livro trata das raças e do próprio povo de Israel. Sua narrativa data dos séculos IX e VI a.C, sendo que sua escrita final se deu no século V a.C.

Gênesis1:11 é a história das origens da humanidade. Gênesis 12:25 é a história dos patriarcas Abraão, Isaac, Jacó e José (um dos filhos de Jacó). O livro começa narrando a história da criação do mundo e de todos os seres vivos. A criação não é mero capricho de Deus, mas um gesto de amor. A semana é apenas um artifício literário para ensinar que tudo o que existe é obra de Deus e quer reforçar o descanso sabático.

O ápice desta criação e, portanto, desta narração é a criação do homem e mulher a imagem e semelhança de Deus. Ser imagem e semelhança de Deus significa ser dotado de vontade e liberdade. Depois mostra a entrada e evolução do pecado atingindo a família com o assassinato de Abel. Para conter o avanço do pecado vem o dilúvio. Com a história da Torre de Babel, o autor sagrado mostra como os homens novamente tentam ocupar o lugar de Deus e são espalhados por toda a terra.

A seguir o texto apresenta Abraão, um pastor seminômade de Ur da Caldéia, que por inspiração divina deixa sua terra e sua família e vai à procura da terra prometida. O objetivo de o redator não descrever os fatos em si mesmos, mas descobrir neles a presença divina. O livro traz uma série de ensinamentos importantes. Estão apenas alguns elencados: Tudo o que existe foi criado por Deus criado com sabedoria e amor, portanto todas as criações são boas; Deus existe antes de todo tempo, é eterno, não foi criado; Homem e mulher são imagem e semelhança de Deus e , como tal, são os senhores de toda criação; A mulher é companheira do homem, ambos são uma só carne: Todo mal que existe no mundo é consequência da desobediência de todos nós seres humanos; Apesar do pecado, Deus não abandona a sua criatura., mas estabelece uma ralação amorosa: Assim, Deus não está longe e alheio à vida humana, mas participa de nossa história.

O LIVRO DO ÊXODO: Na Bíblia hebraica, esse livro se chama Nomes, porque começa relatando os nomes dos filhos de Jacó que desceram, para o Egito. Na Bíblia grega recebeu o título de Êxodo, que significa saída. Esse título resume o conteúdo do livro, a saída ou libertação dos israelitas do Egito. Porém, o livro não narra apenas a saída do Egito, mas sobretudo, a manifestação de Deus na montanha do Sinai e a Aliança. A libertação é narrada nos 15 primeiros capítulos. O livro é a continuação do Gênesis, após descrever rapidamente a situação humilhante dos israelitas no Egito, o livro começa a narrar a história do libertador, Moisés. Descreve a travessia entre o Egito e o monte Sinai, termina narrando a construção da Tenda ou Tabernáculo, onde Deus habitará.

O livro está assim dividido: Libertação do Egito; Caminho pelo deserto do Sinai; Aliança do Sinai. A historicidade dos fatos narrados é aceita unanimemente. Mas trata-se de uma história religiosa e de caráter popular, redigida muito tempo depois dos acontecimentos. O livro procura ressaltar a intervenção providencial de Deus na libertação e formação do povo eleito. Por isso, o autor sagrado deixa de lado as causas naturais dos acontecimentos e descreve tudo com ação milagrosa de Deus. Não se pode negar a ação divina na libertação de Israel da opressão do Egito, mas não se pode dizer que tudo aconteceu por uma série de intervenções milagrosas durante quarenta anos.

Podemos dizer que este livro é ponto central do AT, é o Evangelho do AT. Como os Evangelhos este livro contém a Boa Nova da libertação. A experiência fundamental do povo de Israel é a experiência do deus Libertador. Por isso, as narrações do Êxodo tornaram-se o protótipo de todas as outras libertações. Ainda hoje, estas narrações exercem grande influência. O faraó tornou-se símbolo de todas as opressões e alienações atuais; Israel representa os oprimidos e marginalizados. O próprio NT serve-se muitas vezes da temática do Êxodo. O Concilio Vaticano II definiu a Igreja como “povo peregrino” em busca da Pátria Celeste.

O LIVRO DO LEVÍTICO. Esse título faz referência ao conteúdo do livro, que é um grande código de leis, na sua maioria referentes ao culto e ao sacerdócio. Todos sacerdotes judeus eram da tribo de Levi. Daí o nome do livro: levítico, isto é, da tribo de Levi, ou seja, os sacerdotes e levitas. Podemos dizer que o livro é um grande ritual, em que se descrevem os sacrifícios, as festas, as ofertas, a consagração dos sacerdotes, o comportamento de todo povo diante de seu Deus. O livro está situado no coração do Pentateuco como se fosse o coração da Lei. Todas as leis nele recolhidas são consideradas como dadas por Deus no monte Sinai durante a celebração da Aliança. Mas uma análise mais profunda mostra que o livro contém leis muito posteriores, que foram reunidas e colocadas no contexto da aliança do Sinai.

O livro pode ser dividido em duas grandes partes:
– Parte cultual, com leis referentes ao culto (Lv 1-16).
– Parte legal, contendo leis que abrangem toda a vida do povo (Lv 17-26).

A primeira parte pode ser assim subdividida:
– Lv 1-7 – Leis sobre os sacrifícios: o holocausto, oblações, sacrifícios de comunhão, expiação e reparação.
– L v 8-10 – Leis sobre os sacerdotes.
– Lv 11-16 – Leis sobre a pureza e impureza.

A segunda parte pode ser chamada de Código de Santidade. A santidade deve abranger todos os níveis da vida do povo: social, cultual e temporal. O capítulo 27 é um apêndice com normas sobre votos e tarifas. Este livro é importante para uma compreensão do AT e do NT. Não podemos esquecer que Jesus, os Apóstolos e a igreja Primitiva seguiram muitas das prescrições aí descritas. Podemos também entender a atitude de Jesus contra os fariseus que insistiam, sobretudo nas questões de impureza e pureza.

Dentre muitos aspectos doutrinais, elencamos estes: O culto: é a concretização essencial do sacrifício. Oferecer sacrifícios é uma prática cultual muito antiga, comum a muitos povos. São um meio essencial de aproximar o homem de Deus. A importância da santidade: o conceito de santidade é, ainda, muito imperfeito; atém-se ao exterior das pessoas, contatos, alimentos, comportamentos. Mas essa santidade exterior deve ser reflexo da santidade interior. Não se trata de uma santidade religiosa, mas abrange toda a vida das pessoas.

O pecado: é visto como uma transgressão da Lei. Desobedecê-la é afastar-se de Deus. Por isso, o livro insiste tanto na necessidade de expiação, purificação para restabelecer a comunhão com Deus. Muitas destas Leis preservavam a saúde e o bem-estar do povo. Tinham o objetivo de eliminar muitas doenças, não por ritos mágicos, mas por meios naturais. Por mais estranho que pareça, o Levitico é um livro importante na historia da salvação. Não se explica por si mesmo, mas deve ser entendido no contexto global do AT.

 O LIVRO DE NÚMEROS. Na Tradição hebraica, esse livro é denominado Deserto, justamente porque narra a travessia do deserto pelos israelitas. Porém na tradução grega, recebeu o nome de Números por causa dos recenseamentos apresentados, sobretudo nos capítulos 1-4 e 26. O livro está intimamente unido aos livros do Ex e do Dt, a unidade do livro se deve ao quadro geográfico, isto é, o deserto entre o monte Sinai e as estepes da região de Moab, começa com uma indicação cronológica.

Descreve os últimos vinte dias passados no monte Sinai, os trinta e oito anos no deserto perto de Cades Barnéa e os seis meses na região de Moab. Os últimos acontecimentos no monte Sinai antes da partida são o recenseamento dos homens aptos para a guerra; a disposição das várias tribos no acampamento; uma série de prescrições sobre os levitas e outras leis; a celebração da páscoa; a apresentação da nuvem que cobre o tabernáculo. Logo depois, começa a marcha pelo deserto sob a direção do sogro de Moisés, que conhecia bem a região, pois era morador do Sinai.

A seguir, o livro apresenta as murmurações e lamentações do povo pelas dificuldades da viagem. Depois apresenta uma série de prescrições sobre as ofertas de alimento em alguns sacrifícios e sobre a violação do Sábado.
Em seguida narra a história do adivinho Balaão que ao invés de amaldiçoar, bendiz o povo de Israel; depois a idolatria dos israelitas provocada pelas mulheres de Moab e Madian, o castigo divino e o zelo de Finéias, neto de Aarão. É feito um novo recenseamento para dividir a terra prometida. Depois narra a história de Josué, a vitória sobre os madianitas, a divisão da Transjordânia, a retrospectiva das etapas do caminho pelo deserto, divisão de Canaã, termina dando disposições sobre as cidades refúgios para os homicidas e sobre a herança das mulheres casadas.

O livro pode ser dividido em três partes, tendo como base os três principais lugares onde os israelitas acamparam: o monte Sinai (aproximadamente 20 dias), Cades Barnéa (38 anos) e as planícies de Moab (mais ou menos 6 meses):

Números 1:10,10 – no monte Sinai.
Números 10, 11-21 – no deserto entre o monte Sinai e a região de Moab.
Números 22-36 – nas planícies de Moab. O livro apresenta o Israel do deserto como Israel ideal. Mas nem por isso deixa de narrar as revoltas sob as mais variadas formas: murmurações, desânimo, rejeição da mediação de Moisés, descrença, etc. Na teologia do autor, o deserto é o lugar em que Deus habita e caminha com seu povo, mas é também o lugar do pecado, da ingratidão, da revolta contra Deus.

O LIVRO DO DEUTERONÔMIO. O último livro do Pentateuco recebeu este nome que significa exatamente segunda (deuteros) lei (nomos). Na realidade, não se trata de uma segunda Lei, mas de uma segunda cópia da Lei. A maior parte do livro é formada por leis que repetem muitas vezes as apresentadas em Êxodo e Levítico. Na Bíblia Hebraica, esse livro é denominado Palavras, com referência aos discursos de Moisés nele contidos. Sua colocação no final do Pentateuco se deve à sua geografia e cronologia. É situado na região de Moab, no último ano da peregrinação pelo deserto, pouco antes da entrada na terra prometida.

O livro é formado por três discursos de Moisés, pronunciados em Moab pouco antes de sua morte. O objetivo dos discursos é confirmar a aliança do Sinai:
primeiro discurso de Moisés – Dt 1, 1-4, 40.
segundo discurso de Moisés (primeira parte) Dt 4, 41-11,32.
segundo discurso de Moisés (segunda parte) Dt 26, 16-28, 69
terceiro discurso de Moisés – Dt 29, 1-30, 20
apêndice histórico – Dt 31-34.

Embora os discursos do Deuteronômio sejam atribuídos a Moisés, seus verdadeiros autores e destinatários não viveram no século XIII a C., mas provavelmente no século VIII. O livro foi se formando gradativamente entre 750 e 400 a C. Provavelmente o núcleo central do livro (4, 1-28; 5, 1-9, 10; 12, 1-28, 46; 30, 11-20; 31, 9-13) foi redigido por um levita no reino de Israel nos meados do século VIII a C. Ele parece reunido a pregação de levitas itinerantes que percorriam o País, ensinando a Lei e relembrando a aliança do Sinai.

Por ocasião da destruição do reino de Israel, em 722 a C, o texto original do Deuteronômio foi trazido para o reino de Judá, talvez junto com o documento eloísta. Provavelmente o rei Ezequias (715-687 a C) serviu-se deste documento na sua reforma religiosa. O livro teria então recebido alguns acréscimos. Mas na reforma religiosa de Josias (640-609 a C), quando por ocasião da restauração do Templo (622 a C), se encontrou o Livro da Lei. Os biblistas concordam em afirmar que este livro é o Deuteronômio.

Os dois grandes protagonistas do Livro são Deus e Israel. O Deus de Abraão, Isaac e Jacó que se revelou a Moisés no Monte Sinai, escolhendo para si um povo dentre todos os povos da terra. Esta escolha amorosa exige de Israel uma resposta amorosa. Os homens se uenm por meio de pactos e alianças. Deus aceitou este modo dos homens se relacionarem e uniu-se a eles através da aliança. Este importante tema perpassa todo o Pentateuco. Os escribas que fizeram a última redação dos cinco livros estruturaram todo o texto com base na teologia da aliança divididos em quatro períodos: A criação até Noé; De Noé a Abraão; De Abraão a Moisés; De Moisés a Josué.

A primeira é descrita em Gênesis 9:1-17, o arco-íris no céu é o seu sinal. A aliança com Abraão foi depois renovada com Isaac e Jacó. A aliança do Sinai é a mais importante de todas. Ela determina o nascimento do Povo de Deus. Enquanto as alianças com Noé e Abraão eram muito mais uma promessa gratuita de Deus, a do Sinai requer maior participação humana. A aliança de Siquém marca o quarto período. Josué propõe ao povo servir a Deus ou a outros deuses, o povo se compromete a servir exclusivamente a Deus.


1 Depois reuniu Josué todas as tribos de Israel em Siquém; e chamou os anciãos de Israel, e os seus cabeças, e os seus juízes, e os seus oficiais; e eles se apresentaram diante de Deus.
2 Então Josué disse a todo o povo: Assim diz o Senhor Deus de Israel: Além do rio habitaram antigamente vossos pais, Terá, pai de Abraão e pai de Naor; e serviram a outros deuses.
3 Eu, porém, tomei a vosso pai Abraão dalém do rio e o fiz andar por toda a terra de Canaã; também multipliquei a sua descendência e dei-lhe a Isaque.
4 E a Isaque dei Jacó e Esaú; e a Esaú dei a montanha de Seir, para a possuir; porém, Jacó e seus filhos desceram para o Egito.
5 Então enviei Moisés e Arão e feri ao Egito, como o fiz no meio deles; e depois vos tirei de lá.
6 E, tirando eu a vossos pais do Egito, viestes ao mar; e os egípcios perseguiram a vossos pais com carros e com cavaleiros, até ao Mar Vermelho.
7 E clamaram ao Senhor, que pôs uma escuridão entre vós e os egípcios, e trouxe o mar sobre eles, e os cobriu, e os vossos olhos viram o que eu fiz no Egito; depois habitastes no deserto muitos dias.
8 Então eu vos trouxe à terra dos amorreus, que habitavam além do Jordão, os quais pelejaram contra vós; porém os entreguei nas vossas mãos, e possuístes a sua terra, e os destruí de diante de vós.
9 Levantou-se também Balaque, filho de Zipor, rei dos moabitas e pelejou contra Israel; e mandou chamar a Balaão, filho de Beor, para que vos amaldiçoasse.
10 Porém eu não quis ouvir a Balaão; pelo que ele vos abençoou grandemente e eu vos livrei da sua mão.
11 E, passando vós o Jordão, e vindo a Jericó, os habitantes de Jericó pelejaram contra vós, os amorreus, e os perizeus, e os cananeus, e os heteus, e os girgaseus, e os heveus, e os jebuseus; porém os entreguei nas vossas mãos.
12 E enviei vespões adiante de vós, que os expulsaram de diante de vós, como a ambos os reis dos amorreus; não com a tua espada nem com o teu arco.
13 E eu vos dei a terra em que não trabalhastes, e cidades que não edificastes, e habitais nelas e comeis das vinhas e dos olivais que não plantastes.
14 Agora, pois, temei ao Senhor, e servi-o com sinceridade e com verdade; e deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais além do rio e no Egito, e servi ao Senhor.
15 Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor.
16 Então respondeu o povo, e disse: Nunca nos aconteça que deixemos ao Senhor para servirmos a outros deuses;
17 Porque o Senhor é o nosso Deus; ele é o que nos fez subir, a nós e a nossos pais, da terra do Egito, da casa da servidão, e o que tem feito estes grandes sinais aos nossos olhos, e nos guardou por todo o caminho que andamos, e entre todos os povos pelo meio dos quais passamos.
18 E o Senhor expulsou de diante de nós a todos esses povos, até ao amorreu, morador da terra; também nós serviremos ao Senhor, porquanto é nosso Deus.
19 Então Josué disse ao povo: Não podereis servir ao Senhor, porquanto é Deus santo, é Deus zeloso, que não perdoará a vossa transgressão nem os vossos pecados.
20 Se deixardes ao Senhor, e servirdes a deuses estranhos, então ele se tornará, e vos fará mal, e vos consumirá, depois de vos ter feito o bem.
21 Então disse o povo a Josué: Não, antes ao Senhor serviremos.
22 E Josué disse ao povo: Sois testemunhas contra vós mesmos de que escolhestes ao Senhor, para o servir. E disseram: Somos testemunhas.
23 Deitai, pois, agora, fora aos deuses estranhos que há no meio de vós, e inclinai o vosso coração ao Senhor Deus de Israel.
24 E disse o povo a Josué: Serviremos ao Senhor nosso Deus, e obedeceremos à sua voz.
25 Assim, naquele dia fez Josué aliança com o povo e lhe pôs por estatuto e direito em Siquém.
26 E Josué escreveu estas palavras no livro da lei de Deus; e tomou uma grande pedra, e a erigiu ali debaixo do carvalho que estava junto ao santuário do Senhor.
27 E disse Josué a todo o povo: Eis que esta pedra nos será por testemunho, pois ela ouviu todas as palavras, que o Senhor nos tem falado; e também será testemunho contra vós, para que não mintais a vosso Deus.
28 Então Josué enviou o povo, cada um para a sua herança.
29 E depois destas coisas sucedeu que Josué, filho de Num, servo do Senhor, faleceu, com idade de cento e dez anos.
30 E sepultaram-no no termo da sua herança, em Timnate-Sera, que está no monte de Efraim, para o norte do monte de Gaás.
31 Serviu, pois, Israel ao Senhor todos os dias de Josué, e todos os dias dos anciãos que ainda sobreviveram muito tempo depois de Josué, e que sabiam todas as obras que o Senhor tinha feito a Israel.
32 Também os ossos de José, que os filhos de Israel trouxeram do Egito, foram enterrados em Siquém, naquela parte do campo que Jacó comprara aos filhos de Hemor, pai de Siquém, por cem peças de prata, e que se tornara herança dos filhos de José.
33 Faleceu também Eleazar, filho de Arão, e o sepultaram no outeiro de Finéias, seu filho, que lhe fora dado na montanha de Efraim. (Josué 24)


terça-feira, 30 de agosto de 2016

ACHIMENES PÚRPURA




BASTÃO DO IMPERADOR ROSA


NÃO BASTA PEDIR, TEM QUE ACREDITAR

NÃO BASTA PEDIR, TEM QUE ACREDITAR  (J.F.de ASSIS)



A palavra milagre vem do Latim “miraculum” que quer dizer algo espantoso, extraordinário, algo fora do comum, um acontecimento inexplicável para as leis naturais do homem. Em acepção geralmente empregada, milagre ou miráculo (do latim miraculum, do verbo mirare, "maravilhar-se") é um acontecimento dito extraordinário que, à luz dos sentidos e conhecimentos até então disponíveis, não possuindo explicação científica conhecida, dá-se de forma a sugerir uma violação das leis naturais que regem os fenômenos ordinários, de acordo com a interpretação do ponto de vista humano.

Para grande parte dos teístas, sua realização é atribuída à onipotência divina, sendo considerado como um ato de intervenção direta de Deus (ou deuses) no curso normal dos acontecimentos. Geralmente os milagres têm, segundo esses, propósitos definidos, sendo o mais comum o de beneficiar, por mérito moral e ou de , adeptos de determinada crença em detrimento dos não adeptos, que permanecem sujeitos às leis regulares, ou por puro ceticismo.

Podemos perceber o milagre de Deus desde a criação do mundo e de todas as coisas que nele há, desde o Livro de Gênesis, que fala da criação do mundo quando lemos que no princípio a terra era vazia e sem forma, e o Espírito de Deus pairava sobre o abismo. A vontade de Deus se manifestou pela fala direta e objetiva: “Haja! ” A partir daí tudo o que se sucedeu foi uma sequência de milagres. Tudo o que cerca o homem dentro e fora deste planeta foi resultado do milagre da criação de Deus.

Quando Deus realiza um milagre, este é feito de forma direta, sem interferências, pois a sua vontade é soberana e não há nada, nem ninguém que o possa impedir. Pois diz a palavra de Deus: “Ainda antes que houvesse dia, eu sou, e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos: operando eu, quem impedirá? (Is 43:13) “Assim diz o Senhor, Rei de Israel, e seu Redentor, o Senhor dos Exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e fora de mim não há Deus. ” (Is 44:6) “Eu fiz a terra, e criei nela o homem; eu o fiz: as minhas mãos estenderam os céus, e a todos os seus exércitos, dei as minhas ordens. ” (IS 45:12) “Eu sou o Senhor, e não há outro: fora de mim não há Deus; Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro: eu sou o Senhor, e não há outro” (Is 45:5,6)

O Teísmo é uma filosofia praticada por aquele que crê na existência de um ser supremo.  É um conceito filosófico-religioso desenvolvido para se compreender o Criador. Esta filosofia defende que este Ser é a única entidade responsável pela criação do Universo; é onipotente, capaz de realizar tudo sem a ajuda de ninguém; onisciente, ou seja, aquele que tudo conhece; detém infinita liberdade e suprema generosidade. Esta expressão provém do grego Théos, com o significado de ‘deus’. Neste sentido, o Teísmo se contrapõe ao ateísmo, que não acredita na existência de uma divindade suprema. O Teísmo pode ser classificado em Monoteísmo – fé em um único Deus -; Politeísmo – devoção a diversas divindades – e Henoteísmo – quando se adora um Deus Superior, mas não se rejeita a existência de outros deuses.

Milagre significa em Latim: “Supra, praeter vei contra naturam” É algo superior, diferente, contrário a natureza. Milagre é a realização concreta da vida de Deus nos homens e na natureza. É a manifestação do amor do Criador, milagre é Cristo em nós, esperança e fé de uma vida vitoriosa, de um espírito renovado e cheio de paz em um mundo corrompido pelo mal. O mal é o esquecimento do milagre é o avesso da fé, é o abandono de Deus é o desprezo pelo simples. O mal é a ingratidão que endurece o coração.

Entre o mundo grego e o contemporâneo, entre ciência e fé, Deus é sobre todos e porque seu amor dura eternamente, os milagres continuarão existindo entre o visível e o invisível, vida e morte, tudo renasce com a força do milagre.  "E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda terra e todas as árvores em que há fruto e dê semente; isso vos será por mantimento. E a todos os animais da terra, e a todas as aves do céu, e a todos os répteis, e a toda erva verde lhes será para mantimento" Gn 2:29-30 

Sendo assim, o milagre está em toda parte, ele nos rodeia e nos mantêm vivos. Imagine um mundo sem verde, sem campo, matas, selvas e cidades. Tudo é milagre!! O canto do pássaro anunciando o amanhecer, o desabrochar de uma rosa, as sementes que caem no solo e germinam... de milagre é feita a vida! A vida é a manifestação do próprio Deus, pois que mais podemos comparar para confirmarmos a grandeza e a majestade de Deus que nos criou a sua imagem e semelhança? Somos a prova viva de que milagres existem, Deus nos criou e a tudo o que existe à nossa volta para que testemunhássemos isto. Não fomos criados aleatoriamente e postos na terra, somente por um capricho divino. Fomos criados para não sermos somente testemunhas desse milagre, mas para que o desfrutássemos de forma plena. Pois o Senhor nos deu e nos dá vida e vida em abundância, para que todos os dias ao despertarmos pela manhã, saibamos que o seu milagre ainda permanece vivo.

Se tem algo que satisfaz plenamente a condição de insuficiência humana é olhar para Deus e confiar Nele. Através do sacrifício de Jesus na cruz e da Sua ressurreição, Deus nos convida a vivermos o mais feliz dos milagres que é a vida eterna com o Pai. Esse Pai que se move em milagres para tornar possível a felicidade humana.

Quando Jesus foi procurado pela irmã de Lázaro, informando-lhe que o seu amigo, estava doente e que precisava da sua presença naquele momento de dor e de enfermidade, Jesus sabia do que ela precisava e desejava naquele momento difícil. Mas ele também sabia que ainda não era chegada a hora do filho de Deus manifestar o seu poder e glória, apesar de Lázaro ser seu amigo. O objetivo da vinda de Cristo à cidade de Betânia completou-se: muitos dos judeus que viram o que Jesus fizera, creram nele! A obra ‘maior’ realizada por Cristo não foi a ressurreição de Lázaro, foi fazer com que os judeus cressem n’Ele ( Jo 6:29 ). Naquele momento houve alegria nos céus em função dos pecadores arrependidos ( Lc 15:10 ).

“E Jesus, ouvindo isto, disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela” ( Jo 11:4 ) A passagem bíblica que narra a ressurreição de Lázaro tem muito a ensinar acerca da Fé cristã. O evangelista João destacou o motivo de ter narrado os milagres operados por Cristo: "Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" ( Jo 20:31 ). Sem perder de vista o objetivo do discípulo Amado, analisemos a narrativa da ressurreição de Lázaro, irmão de Marta e Maria.

Lázaro, irmão de Marta e Maria, ficou enfermo. Marta e Maria (a que enxugou os pés de Cristo após ungi-Lo com um unguento caríssimo) enviaram mensageiros a Cristo para avisá-Lo da condição de Lázaro, dizendo: “Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas” ( Jo 11:3 ). O evangelista destaca que Jesus amava os três irmãos e, ao ouvir acerca da enfermidade de Lázaro, disse: “Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela” ( Jo 11:4 ). Mas, a despeito da enfermidade de Lázaro, Jesus permaneceu com os discípulos onde estava por dois dias.

No terceiro dia Jesus disse aos discípulos que retornariam para a Judeia ( Jo 11:7 ), ao que os discípulos objetaram:“Rabi, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e tornas para lá?” ( Jo 11:8 ). Jesus respondeu enigmaticamente: “Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo; Mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz” ( Jo 11:9 -10 compare Jo 9:4 ). Ora, Jesus identificou-se como sendo a Luz que veio ao mundo "Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo" ( Jo 9:5 ); "Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas" ( Jo 12:46 ).

Em seguida Jesus disse aos discípulos que Lázaro dormia e que iria despertá-lo do sono, e os seus discípulos entenderam que Lázaro estivesse bem, ou seja, que somente estava repousando ( Jo 11:13 ). Foi quando Jesus disse claramente: “Lázaro está morto; E folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para que acrediteis; mas vamos ter com ele” ( Jo 11:14 -15). Tomé, que nada compreendeu, arrematou: “Vamos nós também, para morrermos com ele” ( Jo 11:16 ).

A cidade de Betânia fica a uma distância de três quilômetros de Jerusalém onde Jesus estava ( Jo 10:22 ), e ao chegar na cidade de Betânia, já fazia quatro dias que Lázaro havia sido sepultado ( Jo 11:17). A morte de Lázaro fez com que muitos Judeus fossem à Betânia prestar as suas condolências à Marta e Maria ( Jo 11:19 ). Quando Marta ouviu que Jesus se aproximava, saiu-lhe ao encontro fora da aldeia, enquanto Maria, a que escolheu ficar aos pés de Jesus ouvindo os seus ensinamentos, ficou assentada em casa ( Lc 10:42 ). Ao encontrar Jesus, Marta disse: - “Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido!”. Embora o irmão de Marta estivesse morto, diante de Cristo a certeza de Marta era esta: Lázaro não teria morrido se o Senhor Jesus estivesse com eles. Ela não questionou o fato de Jesus não ter se adiantado para atender o seu irmão quando ainda vivo. Ela não questionou a bondade de Deus. Não atribui sua perda a Deus, antes demonstrou uma confiança inabalável, apesar da contingência: - “Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido!” ( Jo 11:21 ).

Após expressar a sua confiança, Marta diz: - “Mas também agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá” ( Jo 11:22 ). Mesmo atingida pelas vicissitudes da vida, Marta continuou crendo que, tudo quanto Cristo pedisse a Deus, Deus havia de atendê-Lo. Mesmo estando enlutada, com os sentimentos fragilizados, não questionou o Mestre como os Judeus que ali estavam fizeram: “Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também com que este não morresse?” ( Jo 11:37 ).

Embora Lázaro estivesse no sepulcro, Marta continuou certa de que Cristo continuava o mesmo (Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido) e, que Deus era com Ele (Mas também agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá). Diante das declarações de Marta, Jesus disse: “Teu irmão há de ressuscitar” ( Jo 11:23 ). Novamente Marta nos surpreende, pois faz uma nova confissão: “Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia” ( Jo 11:24 ). Embora tivesse perdido um irmão recentemente e, apesar da amizade Jesus não ter se adiantado para atendê-los, Marta continuava firme na doutrina que aprendera: - Eu sei! Meu irmão há de ressuscitar na ressurreição do último dia!

Através da asserção: “Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia” ( Jo 11:24 ), verifica-se que Marta era uma pessoa resignada, conhecia o ciclo natural da natureza, mas que o seu irmão havia de ressuscitar no dia determinado. Apesar de a adversidade ter se instalado no lar de Marta, ela estava cônscia de que tudo tem o seu tempo próprio “TUDO tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou” ( El 3:1 -2).

Foi quando Jesus fez uma declaração acerca de Si mesmo: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu nisto? ” ( Jo 11:25 -26). Para que se veja o milagre de Deus acontecer é preciso fé. A fé é a mola propulsora do milagre, pois é preciso crer que ele pode acontecer. “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem. “ (Hb 11:1). Quando Jesus disse: “Tirai a pedra! “ Lázaro, vem para fora! ” “Desligai-o e deixai-o ir” o milagre aconteceu. Lázaro estava de volta ao mundo dos vivos, livre das trevas da morte.

É preciso crer que Deus tem um milagre para realizar em nossa vida. Deus é Deus dos vivos e não dos mortos, diz a palavra de Deus. Servimos a um Deus vivo e não morto, portanto, tudo aquilo que pedimos com fé que receberemos, Ele é file e justo para nos conceder. Mas o milagre não tem apenas a função de realizar uma proeza, um feito extraordinário, conceder uma graça a quem o clama. O milagre de Deus tem a finalidade de fazer com que os corações endurecidos e incrédulos despertem para o poder restaurador de Deus na vida do homem, principalmente daquele que crê. Pois é pela fé que somos atendidos por Deus em nosso clamor do dia-a-dia, nas tribulações e provações.

Há pelo menos mais e 150 citações na Bíblia sobre a fé, esta mesma fé que moveu Josué a conquistar a cidade de Jericó. A mesma fé que fez motivou Josué a clamar ao Senhor para que parasse o sol por mais um dia para que obtivesse vitória. A mesma fé que levou a mulher que sofria de uma hemorragia por toda a sua vida a tocar em Jesus para que fosse curada definitivamente. Ela acreditava que se ao menos tocasse as vestes de Jesus, se ao menos sentisse as vestes do filho de Deus, não precisava que Jesus a ouvisse ou falasse com ela, não precisava que ele olhasse para ela, apenas que ela tocasse em Jesus, a sua cura chegaria para ela e a libertaria da sua impureza, da sua condição de impura e de doente.

 Aquela mulher que estava estigmatizada, que não poderia sequer cogitar estar perto de um homem, falar com ele, abraça-lo. Quanto mais aproximar-se de Jesus! Mas ela resignou-se a tocar as vestes do salvador do mundo e foi em busca de sua cura, através da fé incondicional. E Jesus sentiu o seu toque em meio às investidas da multidão que se compactava para ver o Messias. A fé daquela mulher a curou e a fez experimentar o poder de um milagre. A mesma fé que levou o cego de Jericó clamar o nome de Jesus, filho de Davi a restabelecer-lhe a visão, apesar dos protestos da multidão que se incomodava com o seu clamor às escuras.

Muitas vezes o milagre não acontece na vida de uma pessoa, porque ela se deixa impedir pela multidão de dúvidas, de medo, de incredulidade, de murmurações. O milagre na vida de uma pessoa só poderá ser efetivado, se houver fé e principalmente, se houver resignação e um coração quebrantado. Deus quer agir hoje, como agiu no passado, mas Ele precisa que o seu povo se aproxime verdadeiramente dele com fé e obediência. “E se o meu povo que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra. ” (II Cr 7:14)

Deus que que o homem se ajoelhe e dispa-se de sua arrogância, de seu orgulho, de seu ceticismo, de sua religiosidade falsa, da sua humanidade e se entregue resignadamente aos seus pés, suplicando-lhe para que se realize um milagre. Como fizeram aqueles homens que desceram o doente pelo telhado de uma casa onde estava Jesus. Como o centurião que creu que Jesus poderia curar o seu criado paralítico, sem que Jesus precisasse ir até à sua casa, apenas com a palavra proferida. Jesus maravilhou-se com tamanha fé e acrescentou que nem mesmo em Israel encontrara alguém com tamanha fé no poder de Jesus. Naquele mesmo dia o servo foi curado. Deus nos faz lembrar que para que o milagre aconteça NÃO BASTA PEDIR, TEM QUE ACREDITAR.



ENTENDENDO O LIVRO DE SALMOS

LER O LIVRO DE SALMOS PARA QUÊ? (J.F.de ASSIS)



          
ENTENDENDO O LIVRO DE SALMOS (J.F.de ASSIS)



O livro de Salmos é um cântico sagrado dos hebreus acompanhado de instrumentos de cordas, como o Saltério (nebel). O saltério (como também é conhecido o Livro de Salmos) é da família dos cordofones. Trazido pelos árabes, é um dos instrumentos de cordas mais importantes durante a idade média trovadoresca, aparecendo inúmeras vezes representado na iconografia e referido em fontes escritas ele vai sendo desenvolvido e evoluindo até ao renascimento acabando por dar origem aos instrumentos de teclas da família do cravo.
A sua origem é longínqua. Remonta pelo menos a 300 a.C., quando era utilizado no domínio religioso para acompanhar os salmos. No século XII este instrumento é composto por uma caixa de ressonância triangular ou trapezoidal integrando de sete a dez cordas que se beliscam - daí a sua denominação que designava, na Grécia Antiga, todos os instrumentos tocados com os dedos e não com o plectro. Na caixa de ressonância encontramos de sete a dez cordas fixas através de cavilhas.
A caixa de ressonância tem normalmente a forma de um trapézio, dois ordenamentos de cordas em correspondência dos lados oblíquos, cordas essas que se encontram distantes umas das outras, de modo a poderem ser beliscadas com os dedos, ou então percutidas com plectros ou com uma vara em metal ou madeira, criando ou uma melodia ou um acompanhamento rítmico.  Este instrumento musical tem algumas variantes e o fato de ter um tamanho pequeno tornou-o funcional e fácil de transportar e hoje ainda é usado, sobretudo no continente europeu, para acompanhar o canto.
Enquanto que o saltério de arco é em geral em forma de triângulo e as cordas encontram-se mais próximas e sobre o mesmo plano, no caso do saltério ibérico, as cordas podiam ser pulsadas com os dedos ou percutidas com martelos. É também acompanhado por outros instrumentos de cordas como a lira ou harpa. O Livro de Salmos é uma composição de 150 textos poéticos de lamentação, súplica, louvor, ação de graças, de tempos e lugares diferentes. Essa coleção chama-se em hebraico, O Livro dos Salmos. Em grego, Psalmos, isto é, “Poemas adaptados à música”. É o primeiro e mais comprido dos livros do Hagiógrafo, a terceira divisão da Bíblia hebraica.
          O livro de Salmos é um dos mais estimados e usados do Antigo Testamento e, ao mesmo tempo, um dos mais problemáticos do cânon. Questões relativas à autoria, composição, teologia, interpretação, aplicação e função contribuem para a complexidade do livro. O fato de muitos cristãos, ao longo dos séculos, terem encontrado consolo em suas páginas em tempos de necessidade, sem jamais considerar estas questões, serve de testemunho do poder de Deus de ministrar por meio dos livros das Escrituras.

          Os primeiros salmos a serem agrupados, e que mais tarde dariam origem ao Saltério, foram denominados “Orações de Davi, filho de Jessé”. Outros foram compostos durante o exílio. Contudo foi durante o reinado de Salomão e o exercício do serviço litúrgico e religioso no primeiro Templo, que os salmos definitivamente passaram a fazer parte da tradição judaica.  Assim, o livro dos Salmos é a compilação de várias coletâneas da fina obra literária bíblico-canônica judaica (poemas, hinos e cânticos espirituais) e representa a etapa final de um processo que demandou séculos de história. Foram os mestres e servos pós-exílicos do Templo, entretanto, que completaram e concluíram a coletânea final de 150 salmos, ao final do século III a.C.

          Os salmos refletem tanto o caráter histórico como devocional. Muitos acontecimentos da história são apresentados: a criação do homem (8.5), a aliança estabelecida com Abraão e seus descendentes (105.9-11), o sacerdócio de Melquisedeque (110.4), Isaque, Jacó, Moisés e Arão (105.9-45), a libertação do Egito e a herança Cananéia (78.13; 105.44). Muitos outros exemplos poderiam ser citados.

DATA
          Ao questionarmos a data da publicação dos salmos, uma primeira pergunta se faz necessária: de qual salmo especificamente estamos falando? Porquanto o Saltério é composto de salmos que vão desde a época pré-exílica, passando por todo o tempo de cativeiro, até o pós-exílico. II Sam. 15: 1-13 Absalão filho do rei Davi, preparou um golpe para depor seu pai do gover-no de Israel. Após uma campanha ilícita e fraudulenta conquistou o coração do povo. Absalão se auto proclamou rei de Israel estando ele na cidade de Hebrom, distante 29 quilômetros de Jerusalém. A notícia chegou logo a Jerusalém causando um grande alvoroço em todo o palácio real, e agora o que fazer? O rei Davi não reagiu defensivamente convocando o exército para combater Absalão, não, ao contrário, convocou seus homens seus ser-vos e disse; “fujamos porque não poderíamos escapar diante de Absa-lão”. Ver II Sam. 15: 14. Que contraste. Parece-nos que o rei Davi se aco-vardou diante da situação, parece, mas não foi covardia não. Davi era ho-mem de Deus que só agia sob a direção explicita de Deus, o que no mo-mento ele não tinha por isso tomou esta decisão até que o Senhor lhe decla-rasse o que devia fazer.

Esta fuga do rei Davi tem pelo menos cinco lições maravilhosas a nos ensinar; Primeira Lição: O REI DAVI SE HUMILHOU; No Salmo: 41: 4; Davi faz a seguinte oração, “Senhor, tem piedade de mim; sara a minha alma, porque pequei contra ti”. Deus permite algo não muito agradável acontecer conosco, para nos ensinar, para aprimorar nosso caráter e isso não é fácil, pois nos machuca, fere o nosso ego, mas no final somos abençoados e crescemos espiritualmente. Esse acontecimento fez com que o rei Davi aprendesse a lição da humildade, ele era o rei, mas nem por isso fez valer sua autoridade de rei, porém humilhou-se. O Senhor Jesus disse “Porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, mas qualquer que a si mesmo se humilhar será exaltado”. Lucas: 18: 14. A humildade é uma qualidade que enobrece o ser humano e tem a aprovação de Deus. É bom lembrar que a humildade não é um dom que recebemos de Deus, mas uma virtude que desenvolvemos dentro de cada um de nós, veja o que Jesus disse: “qualquer que a si mesmo se humilha”. O rei Davi foi abençoado e vitorioso porque aprendeu a ser humilde.

          Segunda lição: CONFIAR SOMENTE NO SENHOR. “A minha alma espera somente em Deus; dele vem a minha salvação. Só ele é a minha rocha e a minha defesa; não serei grandemente abalado”. Salmo: 62: 1,2. O rei Davi era um guerreiro, sabia usar as armas militar, tinha a seu dispor no mínimo seiscentos homens valentes e mui bem preparados para combater no campo de batalha, mas preferiu confiar no Senhor, tinha certeza que no momento certo Deus, lhe daria a vitória sem com tudo derramar uma gota de sangue. Confiar em Deus é uma grande qualidade dos servos de Deus, com tudo não é cruzarmos os braços e ficar esperando Deus fazer, mas confiar em Deus é fazer a nossa parte e acreditar que o impossível “ELE” com certeza faz. Quando tudo nos parece sombrio e temeroso podemos confiar no Senhor, e descansar, pois, ELE é refugio e sombra para descansar nossa alma abatida.

          Terceira lição: NÃO SE IRAR INUTILMENTE. “Irai-vos e não pequeis; falai com o vosso coração sobre a vossa cama e calai-vos”. (Salmo: 4: 4). Quando tudo dá errado, quando somos privados de nossos direitos ficamos nervosos, tentamos jogar a culpa em alguém, esbravejamos e até ficamos irados. Quando isso acontece queremos fazer justiça com as nossas próprias mãos, mas não é este o propósito de Deus para o homem. A ira é um pecado que leva o ser humano a cometer outros pecados e assim ao invés de resolver o problema piora muito mais. A bíblia sagrada relata-nos a história de Caim e Abel da seguinte forma; “irou-se Caim fortemente, contra seu irmão Abel e descaiu-lhe o seu semblante”. (Gênesis 4: 5). Caim deixando-se dominar pelo pecado da ira cometeu outro pecado, o assassinato, matando seu irmão Abel. O rei Davi tinha tudo para ficar irado com seu filho Absalão, mas preferiu manter a calma, pois sabia que a vingança pertence a Deus, e que o Senhor cuida de seus servos que lhe são fiéis. “Minha é a vingança e a recompensa ao tempo que se resvalar seu pé; porque o Senhor fará justiça ao seu povo e terá compaixão de seus servos”. (Deuteronômio 32: 35,36).

          O apóstolo Paulo nos adverte; “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira”. (Efésios 4:26). Quando tomamos a iniciativa de fazer justiça com as próprias mãos erramos gravemente até porque somos pecadores tanto quanto nosso semelhante, talvez não cometesse o mesmo erro, mas cometemos erros mais graves contra outras pessoas, portanto nós seres humanos não temos competência para julgar quem quer que seja, vejamos o que diz o apóstolo Paulo: “Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo”. (Romanos 2:1). Aprendamos com o rei Davi a deixar a vingança para o Senhor, pois ele é o justo juiz que castiga todo aquele que precisa e isto faz com muito amor e carinho não para destruir ou matar,        mas restaurar e salvar a todos.

          Quarta lição: LOUVAR A DEUS EM MEIO AOS SOFRIMENTOS. “Bendito seja o Senhor Deus de Israel, de século em século, AMÉM, AMÉM”. Louvar a Deus em meio ao sofrimento, perseguições e, traição não é nada fácil, no caso do rei Davi era pior, pois estava sendo traído por seu próprio filho, porém o rei Davi ao invés de reclamar falar mal de tudo e de todos louvava a Deus e adorava-o. O apóstolo Paulo nos ensina; “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto”. (Romanos 8:28). Todo verdadeiro servo de Deus, deve estar consciente disso, que tudo o que acontece com ele não é por acaso mesmo não sendo algo bom e agradável, Deus tem um propósito, tem alguma coisa importante a nos ensinar e nos aprimorar para podermos ensinar outros com quem convivemos e que passa por situações semelhantes, portanto devemos louvar a Deus ainda que seja com lagrimas de sofrimento.

          Quinta lição: AMAR A CASA DE DEUS. “Uma coisa pedi ao Senhor e a buscarei; que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do Senhor e aprender no seu santo templo”. (Salmo: 27: 4). A tranquilidade, a fartura nos faz acomodar e desprezar o que temos de melhor. “A alma farta pisa o favo de mel, mas para alma faminta todo amargo é doce”. (Provérbios 27:7). Vivemos em um país onde há liberdade total para professarmos nossa fé, apoio das autoridades e até garantias constitucionais para realizarmos o culto, mas nem sempre essas bênçãos são devidamente valorizadas. Por termos liberdade excessiva deixamos de frequentar os cultos por qualquer motivo às vezes até banal, não valorizamos a liberdade, a saúde e outras bênçãos que desfrutamos no momento, porque deixar para quando a velhice chegar à visão se tornar um obstáculo? Amemos a casa do Senhor, glorifiquemos a ELE, pois é digno de toda honra e Glória.

          O processo de descobrimento, seleção e formação da coletânea canônica dos salmos levou vários séculos, e foi concluído somente no final do século III a.C. Considerando que metade de todo o Saltério é de autoria de Davi (ou davídicos), e que quase todos foram originados no período áureo de Israel e alguns até mais tarde, podemos datar as primeiras publicações dos Salmos por volta do ano 1000 a.C.

AUTORES DOS SALMOS

          Falamos de Salmos como sendo de Davi. Ele é considerado o autor principal, dá a nota dominante, e a sua voz se sobressai às outras no coro sagrado. Mas houve outros autores além dele.

           De acordo com os títulos, Davi foi o autor de 73 salmos, Asafe foi autor de 12, os filhos de Coré foram autores de 11, Salomão foi autor de 2, e Moisés e Etã foram autores de 1 salmo cada. Nenhum autor é mencionado no caso de 50 dos salmos. A Septuaginta adiciona Ageu e Zacarias como autores de 5 salmos. Salmos de Davi: 3 a 9, 11 a 32, 34 a 41, 51 a 65; 68 a 70, 86, 101, 108 a 110, 122, 124, 132, 133, 138 a 145. Salmos de Salomão: 72 e 127. Salmos dos filhos de Coré: 42, 44 a 49, 84, 85, 87 e 88. Os filhos de Coré formavam uma família de sacerdotes e poetas no tempo de Davi. Salmos de Asafe: 50, 73 a 83. Asafe era um dos principais músicos de Davi. A família de Asafe era encarregada da música de geração em geração. Salmo de Etã: 89. Salmo de Moisés: 90. É provável que em alguns casos, o nome atribuído ao autor de certos salmos possa referir-se melhor ao compilador do que ao autor.

ORGANIZAÇÃO DOS SALMOS

          Já sabemos que os salmos 1 e 2 servem de introdução geral ao livro e que os salmos de ligação são uteis para discernirmos o propósito do organizador. Que conclusões podem ser tiradas deles quanto ao propósito e a mensagem do organizador? O Salmo 1 traça a distinção nítida entre a conduta do justo e a do ímpio. Também fala de seus respectivos destinos. Percebemos que o organizador apresenta com precisão um dos temas principais dos salmos: o interesse pelo galardão dos justo e o castigo dos ímpios.

          O Salmo 2 apresenta a ideia de que Deus escolheu o rei israelita e o defendeu das conspirações dos reinos.  Apresenta-se aqui o aspecto nacional em contraste com o aspecto individual. Esses dois níveis de mensagem (individual e nacional) unem-se em Davi. Ele representa o justo necessitado de apoio divino. Também é o rei de Israel por excelência, que representa não só Israel, mas também todos os reis sucessivos de sua linhagem. Seu amor a Deus levou o Senhor a escolhê-lo como rei e estabelecer a aliança do Reino com ele.

PROPÓSITO E MENSAGEM

          Cada autor possuía um propósito especifico para compor um salmo. Os comentários mais antigos sugerem a situação histórica por trás de cada salmo, mas essa prática era altamente especulativa e não produziu resultados satisfatórios. É provável que muitas composições tenham sido feitas para suprir necessidades litúrgicas.

           Devemos estar dispostos a considerar toda a gama de situações possíveis. Alguns salmos foram motivados possivelmente por acontecimentos históricos específicos, por exemplo, treze deles citam ocorrências históricas no título: 3, 7, 18, 34, 51, 52, 54, 56, 57, 59, 60, 63 e 142. Todos são da autoria de Davi. Outros devem ter sido escritos para ocasiões litúrgicas distintas. Mas alguns podem ter sido meditações pessoais. A questão é que não há propósito unificado ou mensagem identificada como uma linha de pensamento unificada nos salmos.

DIVISÕES E TÍTULOS DOS SALMOS

          Na sua edição final, o Saltério continha 150 salmos. Quanto a isso, a Septuaginta e o texto hebraico concordam, embora cheguem a essa cifra de modo diferente. A Septuaginta tem um salmo a mais no fim (mas não com a numeração separada, como Salmo 151); além disso, une os salmos 9 e 10 num só salmo, e faz o mesmo com os salmos 114 e 115, dividindo os salmos 116 e 147 em dois salmos cada um. É estranho que tanto a Septuaginta quanto o texto hebraico numerem os salmos 42 e 43 como dois salmos, embora fique evidente que originariamente eram um só.

          O Saltério era dividido em cinco livros (Salmos 1 a 41, 42 a 72, 73 a 89, 90 a 108, 109 a 150), cada um desses livros recebia uma doxologia final apropriada. Os dois primeiros livros eram provavelmente pré-exílicos. A despeito dessa divisão em cinco livros, o Saltério era claramente considerado uma só obra global, com uma introdução (Salmos 1 e 2) e uma conclusão (Salmos 146 a 150).

          Os salmos do primeiro livro são atribuídos a Davi, exceto o primeiro, o segundo, o décimo e o 33º, que são chamados de órfãos por não se conhecerem o nome de seus autores. Na Septuaginta, os salmos que compõem o primeiro livro são atribuídos a Davi, exceto o primeiro, que serve de introdução, e o segundo. O décimo está incorporado ao nono e o 33º traz o título, “A Davi”. O nome divino de Jeová aparece geralmente nos salmos que compõem esse livro.

          O segundo livro contém 31 salmos. Os primeiros oito fazem parte de uma coleção de cânticos atribuídos aos filhos de Coré. O salmo 43, quer tenha sido escrito por eles, quer não, foi composto para conclusão do salmo 42. Esse grupo é seguido de um salmo de Asafe. Vem depois de um grupo de 20 salmos pertencentes a Davi, exceto dois, o 66 e o 67; este último, porém, a Septuaginta o registra como sendo de Davi. O livro fecha com um salmo anônimo e outro salomônico, 71 e 72. Nesse livro predomina a palavra Elohim para designar a pessoa divina, e dois salmos são duplicados de outros dois do primeiro livro, nos quais a palavra Deus é substituída pela de Jeová.

          O terceiro livro contém 17 salmos. Os primeiros 11 são atribuídos a Asafe, quatro aos filhos de Coré, um a Davi e outro a Etã. Os salmos desse livro foram colecionados depois da destruição de Jerusalém e do incêndio do templo (74.3,7,8; 79.1). O quarto livro contém igualmente 17 salmos, o primeiro é atribuído a Moisés e dois a Davi; os 14 restantes pertencem a autores anônimos. A Septuaginta dá 11 a Davi, deixando apenas cinco para autores anônimos, 92, 100, 102, 105 e 106. O quinto livro contém 28 salmos anônimos, enquanto que 15 são atribuídos a Davi e um a Salomão. As inscrições diferem muito na Septuaginta. A coleção dos salmos desse livro foi feita tardiamente porque inclui odes que se referem ao exílio, 126 e 137. Observa-se, pois, que a composição dos salmos demandou grande período de tempo.

           Dos 150 salmos, somente 34 não tem título. Esses chamados salmos “órfãos” acham-se sobretudo do terceiro ao quinto livro, em que tendem em ocorrer em grupos pequenos: Salmos 91, 93 a 97, 99, 104 a 107, 111 a 119, 135 a 137 e 146 a 150. No primeiro e no segundo livro, somente os Salmos 1, 2, 10, 33, 43 e 71 não tem título e, na realidade, os salmos 10 e 43 são continuações dos anteriores.

TERMOS QUE EXPRIMEM O CARÁTER DO SALMO

          Masquil: poema didático, ou refletivo. Mictão: epigramático. Na literatura representa o gênero poético criado na Grécia e popularizado em Roma, consistente em poesias curtas (alguns poucos versos ou estrofes) de conteúdo concentrado e incisivo, de fácil memorização e agradável leitura.
Mizmor: poema lírico. Selah (Pausa): Esse é o termo técnico que mais aparece nos salmos. Aparece setenta e uma vez em trinta e nove salmos e três vezes em Habacuque 3.

          Visto que é impossível determinar se a colocação da palavra é original ou foi introduzida por editores ou copistas, seu objetivo preciso permanece incerto. Dentre as sugestões para seu significado está "pausa" ou "interlúdio", indicando um intervalo no texto ou na execução musical do salmo. Também é possível que seja uma deixa para o coral repetir uma afirmação, ou para um instrumento específico, possivelmente um tambor, fosse tocado para marcar o ritmo ou enfatizar uma palavra.

CLASSIFICAÇÃO DOS SALMOS

          A classificação detalhada dos salmos é de difícil definição, visto que são altamente poéticos, e um salmo pode tocar em diferentes temas. Porém podemos sugerir diversas categorias: Salmos teocráticos: 95 a 100.
Cânticos de degraus ou de romagem: 120 a 134. Cantados provavelmente, pelos peregrinos subindo às festas anuais de Jerusalém. Salmos de aleluia: 146 a 150. Salmos acrósticos: 9,10, 25, 34, 37, 111, 112, 119 e 145. No hebraico a primeira letra de cada linha, ou de cada estrofe, em ordem, segue a ordem do alfabeto hebraico. No Salmo 119, cada estrofe tem 8 linhas e cada linha começa com a mesma letra hebraica da sua estrofe. Esse salmo tem 176 versículos e em todos esses versículos, a não ser em 3, menciona-se a palavra Deus. Referem-se a Palavra de Deus como: Lei, Prescrições, Caminhos, Mandamentos, Preceitos, Juízos, Decretos e Testemunhos. Salmos messiânicos: os hinos da vinda do Messias: 2, 8, 16, 22, 45, 72, 89, 110, 118, 132 e outros. Salmos penitenciais: 38,130, e 143.

          Salmos imprecatórios: 69, 101, 137 e porções dos salmos 35, 55 e 58. Nesses salmos, Davi pede a Deus, vingança contra seus inimigos e os inimigos de Deus. Salmos históricos: 78,81, 105 e 106. Salmos de louvor: Os hinos são facilmente reconhecidos pelo seu exuberante louvor ao Senhor. Deus é louvado pelo que ele é e pelo seu poder e misericórdia. Salmos 8,24,29,33, 47 – 48. Lamentos: os lamentos expressam uma emoção oposta àquela de louvor. No lamento, o salmista abre seu coração honestamente a Deus, um coração muitas vezes cheio de tristeza, medo ou mesmo ira. Salmos 25, 39, 51, 86, 102 e 120.

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS

          O Saltério é poesia do começo ao fim, embora contenha muitas orações. Os salmos são apaixonados, vívidos e concretos; são ricos em figuras de linguagem, como por exemplo as símiles e metáforas. As assonâncias, as alterações e os jogos de palavras também são abundantes no texto hebraico. O uso eficaz de repetições é característico, bem como o acúmulo de sinônimos e complementos para preencher o quadro. Palavras-chave muitas vezes ressaltam temas de maior importância nas orações ou nos cânticos.

          A poesia hebraica não tem rimas, nem métrica regular. Sua característica mais diferenciada e comum é o paralelismo. O maior dos versos é composto de dois (às vezes três) segmentos equilibrados entre si (muitas vezes, o equilíbrio não é rigoroso, e o segundo segmento é em geral um pouco mais breve que o primeiro). O segundo segmento ecoa, contrapõe ou complementa estruturalmente o primeiro. Esses três tipos são generalizações e não são totalmente satisfatórios para classificar a rica variedade que a criatividade dos poetas conseguiu realizar dentro da estrutura básica dos dois versos. Podem servir, no entanto, de distinções genéricas que ajudarão o leitor.

          Saber onde os versos (ou segmentos do verso original) em hebraico começam ou terminam é às vezes, questão incerta. Até mesmo a Septuaginta divide os versos de maneira diferente dos textos hebraicos hoje existentes. Não é de admirar, portanto que as traduções atuais às vezes divirjam entre si.

TEOLOGIA DOS SALMOS

           Assim como o Saltério foi composto durante o período do Antigo Testamento, assim também a teologia dos salmos é tão abrangente como a teologia do Antigo Testamento. Martinho Lutero denominou o Livro dos Salmos de: “Uma Pequena Bíblia e o Restante do Antigo Testamento”.

Os leitores cristãos dos Salmos dão atenção especial à relação entre estes cânticos antigos e Jesus Cristo. Após sua ressurreição, Jesus falou a seus discípulos queimportava que se cumprisse tudo o que sobre mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lucas 24:44). O Antigo Testamento, inclusive os Salmos, aguardavam a vinda de Cristo, o seu sofrimento e a sua glória.

Jesus e os escritores do Novo Testamento fazem extenso uso dos Salmos para expressar seu sofrimento (Mateus 27:46) e a sua glorificação (Mateus 22:41 – 46). Além disso, Jesus foi revelado como objeto de culto dos Salmos. Uma vez que Cristo é a Segunda Pessoa da Trindade, os hinos e os lamentos dos Salmos são dirigidos a ele, assim como ao Pai e ao Espírito. Jesus é ao mesmo tempo, cantor dos Salmos (Hebreus 2:12) e o seu principal tema.
Um dos nossos maiores benefícios no estudo dos Salmos é que somos capazes de, através destes belos poemas, aprender quanto Deus significava para Davi.  Especialmente quando estudamos a vida de Davi e então consultamos os Salmos para relacioná-los com suas experiências da vida, os Salmos se tornam uma rica fonte cheia de verdades construtivas e fortalecedoras sobre nosso Criador.

Por exemplo, Davi se achou frequentemente em sofrimento.  Por causa de seu próprio pecado, ou como resultado de um malévolo inimigo, ele sofreu aflições repetidamente.  O modo como reagiu sob pressão se torna um bom estudo para nós.  E o testemunho de Salmos é que Davi estava predisposto a confiar em Deus quando estava sob pressão.  Esta é uma razão pela qual ele chamou Deus sua rocha, sua cidadela, libertador e escudo (Salmos 18:2).  Muitos dos Salmos entram nesta categoria. O Salmo 31 poderia ser rotulado um salmo de libertação.  A provação de Davi é descrita junto com sua     reação.


          A provação de Davi.  Ele foi apanhado "no laço", ou seja, na armadilha dos seus inimigos (31:4) e cercado pela idolatria (31:6). Ele estava sofrendo aflição e angústia da alma (31:7) nas mãos de seus inimigos (31:8). Ele estava sendo caluniado e conspiravam contra ele (31:13). Ele disse: "Compadece-te de mim, Senhor, porque me sinto atribulado; de tristeza os meus olhos se consomem, e a minha alma e o meu corpo. Gasta-se a minha vida na tristeza, e os meus anos, em gemidos; debilita-se a minha força, por causa da minha iniquidade, e os meus ossos se consomem. Tornei-me opróbrio para todos os meus adversários, espanto para os meus vizinhos e horror para os meus conhecidos; os que me veem na rua fogem de mim" (31:9-11).

          A reação de Davi a esta provação foi procurar refúgio no senhor. "Em ti, Senhor, me refugio; não seja eu jamais envergonhado; livra-me por tua justiça.  Inclina-me os ouvidos, livra-me depressa; sê o meu castelo forte, cidadela fortíssima que me salve. Porque tu és a minha rocha e a minha fortaleza; por causa do teu nome, tu me conduzirás e me guiarás. Tirar-me-ás do laço que, às ocultas, me armaram, pois tu és a minha fortaleza.  Nas tuas mãos entrego o meu espírito; tu me remiste, Senhor, Deus da verdade" (31:1-5).

          Por causa de sua predisposição de confiança no Senhor, esta foi a reação de Davi: pregar (31:23-24), louvar (31:19-21) e chorar ao Senhor seu Deus (31:22). Quando nos encontramos no meio de uma provação desagradável, qual é nossa reação? Voltamo-nos, quase impulsivamente, para algum recurso mundano?  Enganamo-nos pensando que temos dentro de nós a capacidade para enfrentar e sermos corajosos (humanismo)?  Ou nos aproximamos de Deus e fazemos dele nosso refúgio?  Quando em angústia, não podemos fazer nada melhor do que confiar em Deus e olhar para seu semblante de amor e misericórdia. 

          Precisamos cultivar a mesma predisposição de confiança que observamos em Davi. Lutero disse que este Salmo "é falado na pessoa de Cristo e seus santos, que são afligidos toda a sua vida, internamente pelo tremor e o alarme, externamente pela perseguição, a calúnia e o desprezo, por amor da palavra de Deus, e mesmo assim são livrados por Deus de todos eles e confortados." 

O Salmo 31 é um dos muitos salmos de libertação, escritos para nos levar a uma união mais íntima com nosso Deus, para que possamos procurá-lo para nos ajudar e nos segurar.  Paul Earnhart, uma vez, observou a respeito dos Salmos: "Muitos filhos de Deus têm repousado seu coração nas orações daqueles antigos adoradores. Encontramos neles o eco de algum modo confortante de nosso desespero angustiado e sabemos que não somos os primeiros filhos de Deus a lutar a sós com temores. Nem os primeiros, nesse assunto, a conhecer uma alegria toda absorvente".


1 Em ti, SENHOR, me refugio; não seja eu jamais envergonhado; livra-me por tua justiça. O cristão clama pela justiça de Deus com a certeza da segurança e da proteção que o Senhor nos oferece, pois, o Senhor é o nosso socorro bem presente na hora da angústia. O Senhor é o nosso refúgio e fortaleza, com Ele alcançamos misericórdia e abrigo seguro. Se conhecemos ao Senhor que servimos, temos a plena convicção de sua resposta e não seremos envergonhados pois, Deus não é filho do homem para que minta.

2 Inclina-me os ouvidos, livra-me depressa; sê o meu castelo forte, cidadela fortíssima que me salve. Com Deus temos a certeza de sermos ouvidos, pois o Senhor inclina os seus ouvidos para ouvir os justos e retos. O Senhor se mostra inabalável, rocha indestrutível, e as portas do inferno não prevalecerão contra os que confiam no Senhor, pois Ele é como a cidadela fortíssima, nosso castelo forte, onde o inimigo não pode transpor, pois o crente forte, fecha as portas e reforça os ferrolhos em Deus. E a sua oração é ouvida e atendida, pois o Senhor ama os que O buscam pela madrugada.

O termo hebraico para “fortificação” tem o sentido básico de uma praça inexpugnável, inacessível. (Zacarias 11:2). As fortificações duma cidade eram caras e difíceis, e exigiam uma adequada força de defesa, de modo que nem todas as cidades eram fortificadas. As cidades maiores usualmente eram muradas; as localidades menores na mesma região, conhecidas como aldeias dependentes, não tinham muros. (Josué 15:45, 47; 17:11) Os habitantes destas localidades podiam fugir para a cidade murada no caso da invasão por um inimigo. As cidades fortificadas serviam assim de refúgio para o povo daquela região. As cidades também eram fortificadas quando se encontravam num ponto estratégico, para proteger estradas, fontes de água, rotas para bases de suprimentos e linhas de comunicação.

A força e a altura das fortificações de muitas cidades na Terra da Promessa eram tais, que os espias infiéis, enviados por Moisés para espiar Canaã, relataram que “as cidades fortificadas são muito grandes” e “fortificadas até os céus”. Do seu ponto de vista sem fé, as cidades pareciam inexpugnáveis.  (Números 13:28; Deuteronômio 1:28). As cidades nas terras bíblicas, em geral, abrangiam uma área de apenas poucos hectares. Algumas, porém, eram bem maiores. As capitais do Egito, da Assíria, da Babilônia, da Pérsia e de Roma eram excepcionalmente grandes. Babilônia era uma das mais bem defendidas cidades dos tempos bíblicos. Ela não só tinha muralhas extraordinariamente fortes, mas estava situada junto a um rio que constituía um excelente fosso defensivo, bem como um suprimento de água. Babilônia achava que podia reter seus cativos para sempre. (Isaías 14:16, 17). Mas a cidade foi tomada numa só noite pela estratégia de Ciro, o persa, que desviou o Eufrates, para que as forças dele pudessem entrar na cidade através dos portões na muralha ao longo do cais.

Três fatores essenciais eram necessários para uma cidade fortificada: (1) muralhas para atuar como barreira para o inimigo, (2) armas com que as forças defensoras pudessem retaliar para repelir os atacantes, e (3) um adequado suprimento de água. Alimentos podiam ser estocados em tempos de paz; mas um suprimento constante e acessível de água era essencial para que a cidade pudesse suportar um sítio prolongado.

A cidadela costumava ser construída no ponto mais alto duma cidade. Tinha uma torre fortificada e suas próprias muralhas, menos maciças do que as muralhas em torno da cidade. A cidadela era o último baluarte de refúgio e resistência. Quando os soldados do inimigo faziam brechas nas muralhas da cidade, eles tinham de lutar pelas ruas da cidade para chegar à torre. Em Tebes havia uma torre assim, que Abimeleque atacou depois de capturar a cidade, e da qual uma mulher lhe quebrou o crânio por jogar-lhe na cabeça uma mó superior. (Juízes 9:50-54).

3. Porque tu és a minha rocha e a minha fortaleza; por causa do teu nome, tu me conduzirás e me guiarás. É o Senhor quem nos guia com sua destra, somos conduzidos pelas veredas da justiça, por um caminho seguro onde o inimigo não se aproxima nem espreita, porque o Senhor é quem nos guarda e nos leva em segurança por onde quer que andemos. Por mais que andemos em vale de sombras ou vale de morte, é Ele quem nos guarda. Pois se é o Senhor por nós, quem será contra nós e não há outro nome que nos faça confiar. O Deus que confiamos é rocha inabalável, fortaleza intransponível com ferrolhos poderosos.

4 Tirar-me-ás do laço que, às ocultas, me armaram, pois tu és a minha fortaleza. O Senhor é quem nos livra do laço do passarinheiro, do inimigo das almas, dos que tentam nos derrubar e nos destruir às sombras, espreitando, para nos atingir. O Senhor nos livra de todo mal, é Ele quem peleja as nossas batalhas, é Ele quem nos dá o livramento dos dardos inflamados do maligno. Nos coloca em local seguro onde o diabo não pode nos tocar.

5 Nas tuas mãos, entrego o meu espírito; tu me remiste, SENHOR, Deus da verdade. Entrega os teus caminhos nas mãos do Senhor, confia nele que o mais Ele o fará, assim diz a palavra do Senhor. Entregamos nossa vida ao Senhor, pois cremos que Ele cuida de nós e não nos deixará fraquejar, pois a sua destra nos fortalece e nos conduz no caminho da salvação. O Senhor nos remiu com seu sangue, nos livrou da morte eterna e nos deu o céu como herança.

6. Aborreces aos que adoram ídolos vãos; eu, porém, confio no SENHOR. A nossa confiança está no Senhor que fez o céu e a terra e tudo o que nela há. Uns confiam em carros, outros em cavalos, mas eu confio no Senhor e sigo para o alvo que é Jesus. A nossa elação com Deus deve ser sempre de confiança, pois é pela fé que cremos, pela fé servimos, pela fé somos abençoados, e as bênçãos chegam aos que creem no Seu nome. A nossa fé em Deus não é vã, pois não há outro Deus para os conhecem o seu nome.

7. Eu me alegrarei e regozijarei na tua benignidade, pois tens visto a minha aflição, conheceste as angústias de minha alma. Os que confiam no Senhor alegrar-se-ão, pois, a benignidade do Senhor dura para sempre. O Senhor é conosco em nossas aflições e angústias, pois os que esperam no Senhor alcançarão misericórdia, pois o Senhor está atento aos que O buscam.
8 e não me entregaste nas mãos do inimigo; firmaste os meus pés em lugar espaçoso. Deus é fiel para nos garantir segurança e vitória. Basta que acreditemos que Ele nos sustém com sua destra fiel e não nos entregará nas mãos dos nossos inimigos, pois é Ele quem peleja as nossas batalhas. O Senhor é quem nos dá a certeza da vitória. Ele quer que atravessemos as provações à pés secos, dando glórias ao Senhor. E Ele nos fará pisar em terreno seguro e firme.

9 Compadece-te de mim, SENHOR, porque me sinto atribulado; de tristeza os meus olhos se consomem, e a minha alma e o meu corpo. Na minha angústia clamei ao Senhor e Ele me ouviu, assim diz o Salmista Davi. O Senhor é quem nos ouve e nos dá o conforto e a força que precisamos para nos reerguer na tribulação, seja ela qual for, o Senhor promete compadecer-se de nós em qualquer situação de perigo ou de tribulação.

10 Gasta-se a minha vida na tristeza, e os meus anos, em gemidos; debilita-se a minha força, por causa da minha iniquidade, e os meus ossos se consomem. O Senhor contempla o nosso sofrer, Ele não está desapercebido do que enfrentamos todos os dias, mas Ele nos diz: Tem bom ânimo, apenas. Tenha coragem e prossiga para o alvo, para a soberana vocação em Cristo Jesus. Deus conhece as nossas carências, ele sabe do que precisamos, mas Ele também sabe que precisamos seguir com fé, crendo que não estamos sozinhos nesta jornada de fé, que é servir ao Senhor. Mesmo que estejamos já desgastados, cansados, sem forças ou desanimados, por causa de nossa consciência que nos acusa do pecado, Ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e o seu sangue nos purifica de toda culpa.

11 Tornei-me opróbrio para todos os meus adversários, espanto para os meus vizinhos e horror para os meus conhecidos; os que me veem na rua fogem de mim. Por mais que todos nos abandonem, por mais que sejamos injustiçados por causa de nossa vida de pecados, Deus jamais nos deixará abandonados, entregues à própria sorte. Ele nos recebe como filhos, como o filho pródigo foi recebido com um beijo, um anel e uma capa. Deus nos conforta e nos chama de filhinhos, e Jesus nos chama de benditos de meu Pai. Não encontraremos o conforto e a segurança em outros deuses tampouco no homem. Só a pessoa de Jesus pode nos libertar de uma vida de vergonha e dor.

12 Estou esquecido no coração deles, como morto; sou como vaso quebrado. Por mais que sejamos ignorados ou esquecidos de quem fomos um dia, o Senhor nos diz quem somos diante dele. Temos a identidade do povo de Deus, somos reconhecidos como um povo escolhido, nação eleita, povo adquirido pelo sangue de Jesus. Não importa o que os outros pensem ou digam a nosso respeito, o que importa é o que Deus acha de nós. Somos filhos de Deus e herdeiros da sua promessa. Temos valor para Deus, somos mais do que um simples vaso quebrado, pois Deus nos conserta e nos usa novamente, o que estava quebrado e sem uso ou valor agora passa a ser vaso de honra.

No Japão, por exemplo, há uma técnica associada à arte da cerâmica, chamada king sug, que restaura vasos que se quebraram e que estavam fadados ao esquecimento por perder o seu valor de mercado e de arte por causa da quebra. Eles restauram o vaso com ouro e a parte que estava quebrada tem as suas cicatrizes acentuadas com o ouro misturado à cerâmica. O resultado é que o vaso passa a ser mais caro que era antes quando estava perfeito. As marcas são acentuadas e dão à peça um valor inestimável, pois é justamente as marcas que contarão a sua história. Um vaso ming pode ultrapassar milênios e seu valor aumenta a cada século.

Assim somos para Deus, pois, nossas cicatrizes do passado servirão como testemunho do amor de Deus para conosco. Elas servirão para nos lembrar de que Deus nos valoriza por tudo o que somos e não nos deprecia pelo que fomos. O pecado do passado serve como referência do que éramos para o que hoje somos. O que era uma mancha serve como orgulho do que Deus pode fazer por nós.

13 Pois tenho ouvido a murmuração de muitos, terror por todos os lados; conspirando contra mim, tramam tirar-me a vida. Deus jamais permitirá que o inimigo toque em nossa vida. Muitas vezes Deus permite que a tribulação chegue até nós para que nos fortaleçamos na fé que temos nele. O Senhor conhece as nossas capacidades. Pois o que é impossível para o homem, é possível para Deus. Cabe a nós também nos municiarmos das armas de Deus para combater os dardos inflamados do maligno contra nós. A oração, o jejum e a leitura da palavra de Deus são armas eficazes contra isto tudo.

14 Quanto a mim, confio em ti, SENHOR. Eu disse: tu és o meu Deus. Os que confiam no Senhor experimentam a maravilha da tranquilidade e da segurança que a paz do Senhor nos dá. Os que esperam no Senhor descansam, confiam e esperam no Senhor porque Ele está no controle de todas as coisas. Não temos de viver ansiosos pelo dia de amanhã, pois como diz o Senhor, já basta o mal de cada dia.

15 Nas tuas mãos, estão os meus dias; livra-me das mãos dos meus inimigos e dos meus perseguidores. Entrega os teus caminhos nas mãos do Senhor, confia n’Ele que o mais Ele o fará. Assim devemos seguir, crendo que nossa vida está nas mãos de Deus que nos criou e nos dá o provimento na tribulação. É o Senhor que nos livra de todo mal, pois para tal dará ordens ao seus anjos a nosso respeito, para que nos segurem pelas mãos e não nos deixe tropeçar em nenhuma pedra.

16 Faze resplandecer o teu rosto sobre o teu servo; salva-me por tua misericórdia. É o Senhor quem nos observa, seus olhos nos contemplam de dia e de noite, onde quer que estejamos, no secreto de nossos dias, não importa, Ele está a nos guardar, e nos dando o livramento contra as investidas de Satanás e de seus dardos inflamados. A Sua misericórdia é para sempre e o seu amor por nós é renovado a cada manhã, todos os dias experimentamos o milagre da vida, ao despertarmos, temos a certeza do Seu cuidado e da Sua proteção.

17 Não seja eu envergonhado, SENHOR, pois te invoquei; envergonhados sejam os perversos, emudecidos na morte. O Senhor não nos deixará envergonhados diante do inimigo, pois é Ele quem nos encoraja a prosseguir e a glorificar o Seu nome. Não seremos nunca envergonhados por servir ao Senhor pois somente Ele tem a palavra de Salvação e de vida eterna. Os que confiam no Senhor não serão envergonhados pois o Senhor é a nossa força e o nosso refúgio, e sua palavra diz que os inimigos serão exterminados da terra, e os aleivosos desarraigados. Basta apenas que ouçamos a sua voz e sigamos confiantes e obedientes aos seus mandamentos.

18 Emudeçam os lábios mentirosos, que falam insolentemente contra o justo, com arrogância e desdém. Há seis coisas que o Senhor detesta; sim, há sete que ele abomina: olhos altivos, língua mentirosa e mãos que derramam sangue inocente. Os ímpios serão apanhados nas ciladas que armaram contra o pobre, e com a sua arrogância serão destruídos. Confiar no Senhor é ter a certeza da Sua reta justiça contra o inimigo.

19 Como é grande a tua bondade, que reservaste aos que te temem, da qual usas, perante os filhos dos homens, para com os que em ti se refugiam! A bondade do Senhor é a prova de ainda não termos sidos exterminado da face da terra. Ele está sempre pronto a nos receber, mesmo quando nos desviamos do seu caminho, mesmo quando nos desviamos do Seu olhar. É preciso ter o temor do Senhor para que possa experimentar a Sua bondade e benignidade. Temos de ter em mente que Ele é o nosso único refúgio seguro, nossa cidadela fortificada, nosso socorro bem presente.

20 No recôndito da tua presença, tu os esconderás das tramas dos homens, num esconderijo os ocultarás da contenda de línguas. É o Senhor quem nos prepara um lugar seguro, um esconderijo secreto onde o inimigo não pode nos tocar, somos protegidos contra todas as armadilhas e todas as setas venenosas do diabo e seus anjos. O Senhor é quem nos guarda, bendito seja o nome do Senhor que me protege e me dá segurança e paz mesmo em meio às batalhas, o mal não me alcançará, praga nenhuma chegará à minha casa.

21 Bendito seja o SENHOR, que engrandeceu a sua misericórdia para comigo, numa cidade sitiada! Se confiarmos no Senhor, entregando o nosso caminho nas Suas mãos, a misericórdia do Senhor nos dá um salvo-conduto para transitar por todos os lugares em segurança, inclusive nos lugares celestiais, pois aqueles que têm intimidade com Deus experimentam andar em suas dependências celestiais através do Espírito Santo. Mesmo que estejamos em uma cidade sitiada pelos inimigos, rodeados de malfeitores e demônios, o Senhor dá ordens para que não nos toquem. O Senhor alarga a sua misericórdia aos que O amam e O adoram em espírito e em verdade. Sob suas asas estaremos seguros.

22 Eu disse na minha pressa: estou excluído da tua presença. Não obstante, ouviste a minha súplice voz, quando clamei por teu socorro. Mesmo que na angústia, na tribulação esqueçamos que o Senhor está conosco, mesmo naqueles momentos de desespero quando tudo parece desmoronar e não vemos nenhuma luz no fim do túnel, o Senhor nos diz que está conosco. No último instante o Senhor diz que ouviu a nossa súplice voz, pedindo socorro, em meio às lágrimas, o Senhor nos vê e nos conforta dizendo: “esforça-te e tenha coragem, eu sou o teu Deus que estou contigo, eu te levantarei das cinzas e do pó, e te mostrarei a minha glória, e tu será uma bênção. O salmista diz: na minha angústia clamei ao Senhor e Ele me ouviu. Assim o Senhor continua nos ouvindo ainda hoje. Clamai e Ele vos responderá, pois tudo o pedirmos com fé, crendo que receberemos, Ele nos atenderá.

23 Amai o SENHOR, vós todos os seus santos. O SENHOR preserva os fiéis, mas retribui com largueza ao soberbo. O amor do Senhor por nós é imensurável e incomparável, pois ele já nos mostrou o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Ele deu o Seu filho unigênito para morrer por nossos pecados e nos deu a vida eterna. Ele nos tem mantidos vivos até que todos tenha experimentado a Sua salvação. O Senhor ama aos que O buscam, mas abomina aos soberbos e rebeldes que com arrogância, desprezam o seu amor. Os que se sentem autossuficientes, serão envergonhados e o Senhor trará para tais pessoas a Sua reta justiça. E grande será a sua queda.

24 Sede fortes, e revigore-se o vosso coração, vós todos que esperais no SENHOR. O Senhor manda que todos nos fortalecemos no Senhor e na força do Seu poder. Crendo que só o Senhor é Deus e somente Ele pode nos dar o gozo dos céus. Pois não existe nada melhor do que ser amigo de Deus, desfrutar do Seu amor e da Sua paz. Bebendo da água da vida, ungindo-nos com o seu óleo santo, iluminando-nos com a Sua luz, refrescando-nos com a suavidade do seu sopro, embalando-nos com o som da Sua voz, alegrando o nosso coração com as Suas palavras, renovando nossa mente com a Sua sabedoria, fortalecendo nosso coração com a fé inabalável dos que creem em Seu nome.


Ler o Livro de Salmos é descobrir um bálsamo para as nossas dores. É encontrar um tesouro de palavras e ensinamentos que servirão para nos enriquecer sobremaneira, acerca da boa, perfeita e agradável vontade de Deus para nós. Ler o Livro de Salmos e recitar os seus versos é fazer a nossa poesia para o Senhor, que se regozija ao ouvir a nossa voz entoando-os, como se fosse uma oração, um canto de adoração para glorificar o Seu nome. Deus inspirou ao Salmista para que escrevesse suas poesias para que o próprio Deus se deleitasse com as palavras ali escritas, pois elas provêm do próprio coração de Deus. O salmista foi apenas um instrumento usado para apor no papel, a maravilha poética que é o Senhor. Davi era inspirado pelo Espírito Santo para que escrevesse as poesias e as declamassem usando seu saltério. A musicalidade dos Salmos tornam-no uma obra sem igual, pois associa a poesia à música, numa simbiose única e incomparavelmente linda. O resultado é uma obra de incansável beleza audível e uma leitura edificante e reconfortante, pois os Salmos retratam todo o amor de Deus e a sua provisão em todos os momentos da nossa vida, seja na tribulação ou na alegria. Há sempre uma palavra de força e de fé em suas linhas, perfeitamente escritas e preenchidas. O salmista os fez de forma irretocável, como se não houvessem rascunhos, apenas uma criação ininterrupta e sem rasuras, uma obra-prima digna de alguém que tinha o coração segundo o coração de Deus.