segunda-feira, 15 de agosto de 2016

A MINHA GRAÇA TE BASTA

A MINHA GRAÇA TE BASTA (J.F.de ASSIS)






Ninguém merece! Não é difícil encontrar alguém usando essa frase em tom de reprovação de alguma situação chata, contra uma pessoa que fez algo que não é bem aceito. Mas você já pensou nesta frase fazendo um paralelo com o Evangelho? A palavra "graça" é karis em grego. Ela significa "favor não merecido". "Graça" tem a sua raiz etimológica associada com as palavras "alegria" e "regozijo". Isto é: graça é uma situação que nos leva a estar alegres, alegrar-se muitas vezes. Quando Deus disse para Paulo "a minha graça te basta" (II Coríntios 12.9) não estava passando uma reprimenda nele. Animava-o. O Senhor incentivava o apóstolo lembrando que ele tinha muitos motivos para estar contente, porque o poder divino se aperfeiçoava na fraqueza humana dele. Quais seus pontos fracos? Alegre-se, porque o favor divino, que ninguém merece, está ao seu alcance. Use-o!

Graça, no hebraico, é “chen”. Significa curvar-se, abaixar-se, com a conotação de favor imerecido ou a condescendência de um ser superior por alguém inferior em valor e posição. Outra palavra para graça encontrada no Antigo Testamento mais de 250 vezes é “hesed”, traduzida ao português como misericórdia, com o significado de amor leal, firme e fiel. No Novo Testamento, graça é o mesmo que bondade excepcional de Deus para com os seres humanos (como pecadores), para tornar possível o perdão e a salvação (João 1.14; Efésios 2.4-5). Essa misericórdia imerecida está sempre disponível para aqueles pecadores que creem no Evangelho e obedecem ao Senhor (Atos 11.23; 20.32; 2ª Coríntios 9.14). Os cristãos primitivos usavam essa palavra quando se reuniam e se saudavam (Romanos 1.7; 1ª Coríntios 1.3; Gálatas 1.3).

O vocábulo Graça provém do latim gratia, que deriva de gratus (grato, agradecido) e que em sua primeira acepção designa a qualidade ou conjunto de qualidades que fazem agradável a pessoa que as têm. No começo do século XX, costumava-se dizer: "qual é a sua graça?" para perguntar: "como você se chama?". Este costume, que ainda hoje se mantém em alguns lugares, vinha da cerimônia de batismo dos católicos, na qual o indivíduo se torna cristão e, segundo a doutrina católica, recebe a graça de Deus e, junto com a graça, o nome. A palavra graça provém também de grátis, derivado do latim gratiis (pelas graças, gratuitamente) e gratificar, que desde o século XV equivalia a agradecer.”José achou graça a seus olhos e servia-o; e ele o pôs sobre a sua casa e entregou na sua mão tudo o que tinha. “ (Gn 39:4)

Sentido teológico da palavra     

Graça é um conceito teológico fortemente enraizado no Judaísmo e no Cristianismo, definido como um dom gratuito e sobrenatural dado por Deus para conceder à humanidade todos os bens necessários à sua existência e à sua salvação. Esta dádiva é motivada unicamente pela misericórdia e amor de Deus à humanidade, logo, movida por Sua iniciativa própria, ainda que seja em resposta a algum pedido a Ele dirigido. E também por esta razão, a Graça é um favor imerecido pelo Homem, mas sim fruto da misericórdia e amor divinos. “E o Senhor deu graça ao povo em os olhos dos egípcios, e estes emprestavam-lhes, e eles despojavam os egípcios. “ (Ex 12:36)

Dependendo das correntes teológicas cristãs, existem aqueles que defendem que a graça é irresistível; outros que a graça é somente para algumas pessoas escolhidas e totalmente predestinadas por Deus; e há ainda aqueles que acreditam que a graça é universal (ou seja, predestinada para toda a humanidade), mas que pode ser recusada livremente pelo Homem. “Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; mão negará bem algum aos que andam em retidão. “ (Sl 84:11)

Existem vários tipos de graça, como por exemplo:

A graça habitual ou santificante (considerada também a graça primeira): é a origem, o início e a responsável pela justificação, conversão e santificação dos homens e por isso "nos foi merecida pela paixão de Cristo e nos foi dada no Batismo". Por outras palavras, é o princípio e a estrutura da vida sobrenatural, que nos faz participantes da natureza divina, templos do Espírito Santo, filhos adotivos de Deus, irmãos de Jesus Cristo, justos e agradáveis a Deus e capazes de merecer sobrenaturalmente e de penetrar na intimidade do próprio Deus. “Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando vos perturbe, e por ela muitos se contaminem. “ (Hb 12:15)

Com esta graça, são concedidas ao homem as capacidades de operar sobrenaturalmente, a saber: as virtudes infusas ou sobrenaturais e os dons do Espírito Santo. O seu exercício, impulsionado pelas graças atuais, faz parte dos principais meios de santificação. O progresso neste exercício leva aos frutos do Espírito Santo e às bem-aventuranças. A graça santificante perde-se pelo pecado mortal, mas não pelo pecado venial ou pelas penas temporais devidas ao pecado. “Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só – Jesus Cristo.” (Rm 5:17)

As graças atuais: são "dons circunstanciais" atribuídos especialmente ao Espírito Santo ou "intervenções divinas na vida do homem", para que ele possa continuar a acolher e colaborar com a graça e prosseguir o seu caminho de santificação. A graça atual leva o pecador à conversão e a pessoa em estado de graça à procura e ao exercício dos meios de santificação. Esta graça pode ser “eficiente” se uma vez acolhida produz o seu efeito, mas é “insuficiente” quando, recusada ou não aproveitada, fica sem produzir efeito. “Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. “ (I Cor 3:10)

Cremos que a justificação (a ação misericordiosa e gratuita de Deus de conceder a salvação à humanidade), e, portanto, também a graça, podem ser recusadas livremente pelo Homem porque "Deus age de forma livre, concedendo a graça, e a resposta do homem também deve ser livre, pois a alma só pode entrar livremente na comunhão do amor". Por isso, pode-se dizer que "a concretização da salvação de cada pessoa depende também da sua adesão de  e caridade ao Salvador", estabelecendo-se assim uma colaboração indissociável entre a graça e o livre-arbítrio do homem de escolher entre a redenção e a perdição. Daí o fato de existirem pessoas que, depois de morrerem, vão para o Inferno, em vez de alcançarem a plena santidade, que é o desejo e a vontade de Deus para todo o gênero humano. “ E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra. “ (II Cor 9:8)

Estado de graça

Uma pessoa que está em estado de graça vive na amizade e amor de Deus e, se nela morrer, vai para o Céu, pela graça santificante. Por outras palavras, é aquele que não está manchado pelo pecado mortal. Mas, estar neste estado não quer dizer que não tenha pecados para serem purificados ou perdoados, “Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo. “ (I Cor 15:10)

Estar em estado de graça é estar em conformidade com a vontade de Deus e usufruindo os benefícios do seu agir. Se quisermos estar sob a graça de Deus é preciso entregar a nossa vida ao comando do Espírito Santo de Deus que nos foi deixado para que seja o nosso intercessor junto a Cristo. Viver na graça do Senhor é viver em constante oração e santidade, é estar em permanente sintonia com o Espírito Santo. “ e te fizesse saber os segredos da sabedoria, que é multíplice em eficácia; pelo que sabe que Deus exige de ti menos do que merece a tua iniquidade. “ (Jó 11:6)

“E disse-me mais: Está cumprido eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte de da água da vida. “ ( Ap 21:6)


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