sexta-feira, 26 de agosto de 2016

UMA FOLHA QUE CAI


UMA FOLHA QUE CAI (J.F.de ASSIS)


A brisa soprava suave embalando os galhos das árvores. Era como se o vento regesse uma orquestra com seus sopros e lufadas, movendo as folhas de um lado para o outro entoando uma canção de uma nota só por entre os vãos livres das árvores. Era um bailado sereno como se uma bailarina estivesse no palco com os olhos cerrados apenas sentindo a música e deixando para o corpo sincronizar com os pés o ritmo da música.

O vento soprava em todas as direções como se quisesse arregimentar tudo o que estivesse a sua volta, querendo que tudo participasse da sua performance. O vento sempre faz as suas traquinagens, desde o soprar das ondas nos mares, o mover das nuvens criando multifacetados desenhos com os flocos de algodão, o revirar dos cabelos, o uivar por entre as fretas de uma veneziana, até o soprar das saias das meninas.

Mas naquele dia o vento resolveu fazer das suas traquinagens com uma folha que se desprendia do galho por estar amarelada e quase seca. A folha havia cumprido o seu destino e a sua função no ramo a que pertencia. Ela fazia parte de uma equipe de respiração, ajudando a árvore mãe a respirar o ar limpo e puro que ela ajudava a limpar. A folha lembrava muito bem dos tempos em que era uma tenra folha verdinha e brilhante ao nascer, ela acompanhou o nascimento e o crescimento de outras folhinhas iguais a ela, inclusive as que foram retiradas bruscamente em uma poda. Não tivera tempo nem de se despedir das outras irmãs, entretanto, depois dessa poda, ela pode ver outros ramos nascendo e dando lugar a outros e outros mais fortes onde nasciam outras folhas verdes e brilhantes como ela.

Enquanto o vento flanava empurrando a folha em um ir e vir de um lado para o outro a vida pululava naquele jardim. Os beija-flores pulavam de uma flor para outra, as borboletas sentavam nos hibiscos, nas zínias e achimenes, e se lambuzavam do pólen que se desprendia das flores. Parecia que tinham pressa em recolher o máximo de néctar pois era uma busca incessante e frenética por entre o jardim. Acomodado em uma forquilha entre os galhos firmes da árvore estava confortavelmente instalado em um ninho, um columbídeo, que a tudo ignorava, a não ser a sua obrigação de aquecer os ovinhos de seu ninho. Em outras flores, besouros e abelhas disputavam os cachos coloridos, cada um com uma determinação. E a folha caia embalada pela música do vento. A folha obedecia uma trajetória, uma órbita traçada pelo vento desde o galho a que pertencia até o chão. Aliás, no chão, outras folhas mais velhas e mais amareladas e secas aguardavam serenas a chegada de mais uma folha, o chão assumia um colorido variado que ia do amarelo, vermelho e marrom sobre o verde tapete gramíneo. Por entre essas folhas rastejavam outros animais como o calango e a salamandra em busca de algum alimento.

E a folha cumpria a sua jornada no vazio em que caia e a vida continuava a seguir o seu curso, sob o indiferente olhar dos passantes, até que a folha, enfim, tocasse o chão suavemente. E a brisa soprasse mais forte varrendo-as de um lado para o outro do jardim, misturando-as umas com as outras, agitando os galhos das árvores para que desprendesse outra folha, dando continuidade à vida que não para no girar do mundo, nos dizendo que tudo obedece a uma força existente na natureza. Que a vida segue o seu curso apesar de todas as coisas, apesar do passar do tempo e das eras. Que a vida gera vida, mesmo depois da morte, pois assim o fez o Criador de todas as coisas.

 A natureza nos diz que até uma folha que cai, mesmo estando morta serve de alimento para a árvore mãe que irá gerar outras folhas, flores e frutos e por sua vez darão origem a outros e assim sucessivamente completando um ciclo interminável. Nos fazendo refletir no fato de que todos somos importantes e capazes de gerar vida em tudo o que pensamos, imaginamos ou intentamos fazer. Do momento em que em que a folha se desprendeu do ramo a que pertencia, até o tocar no chão a vida se transforma, pois ela não para por causa da queda da folha, a vida continua a despeito de qualquer evento, mesmo quando cessa a vida, pois a partir daí, começará uma nova etapa no plano do Criador para todo aquele que foi feito por obra de Sua vontade.


Nada do que foi criado foi criado aleatoriamente neste mundo e fora dele, tudo obedece a um propósito. Basta apenas que nos atentemos para o que acontece a nossa volta, e busquemos respostas para as nossas dúvidas. É preciso prestar atenção a tudo, é preciso entender tudo o que nos cerca é preciso prestar atenção até para UMA FOLHA QUE CAI.

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